Jogo algum tem interferência da arbitragem no resultado final


As fotos acima mostram duas faltas, chamadas de faltas virtuais: à esquerda a “mão boba” de Michael Jordan empurrando Bryon Russell (Finais da NBA 1998), e à direita LeBron James encostando em Kevin Durant (Finais da NBA 2012). Lances que na realidade foram considerados normais.

No jogo virtual, aquele das inúmeras câmeras em diversos ângulos e de replays intermináveis, dá para notar que houve falta em ambos os lances. Porém na hora que importa, o jogo real, os únicos responsáveis por marcarem penalidade, os árbitros, não observaram nada de anormal.


Infelizmente a mídia americana, em poucos casos, caminha na horrível trilha que no Brasil é prática comum dos programas futebolísticos: culpar os benditos juízes por tudo. Mal acaba o jogo e analistas comentam os lances polêmicos (impedimento, faltas duvidosas, “afinal, foi pênalti ou não?”) que causam ânsia e enojam pela falta de objetividade num comentário, transferindo responsabilidades e esquecendo de apontar o que realmente vale ser discutido.

A falta virtual de LeBron James, percebida só após repetecos, aconteceu nos últimos segundos do jogo 2 – o placar estava 98 Miami, 96 Oklahoma City. A partida terminou 100 a 96 para o Heat e a imprensa yankee, no melhor jeitinho brasileiro, metralhou os jogadores do Thunder, e também o treinador, com perguntas sobre a influência da arbitragem no resultado final, enfatizando a jogada de Durant.

A maturidade mostrada pelo elenco do OKC foi louvável, digna de aula aos esportistas brasileiros que precisam aprender a responder com qualidade o que jornalistas perguntam, por mais que as perguntas sejam estúpidas, o que não justifica respostas do mesmo nível.

A começar pelo armador Derek Fisher, veterano da associação e cinco vezes campeão com o Los Angeles Lakers:


Árbitros não são perfeitos, nós jogadores também não. Seja uma marcação correta ou errada, não podemos nos concentrar nestas coisas. Você não pode usar isso como desculpa por não fazer as coisas que á capaz de fazer como um time. Os árbitros não arremessam lances livres pra você, não pegam rebotes pra você, não alertam a defesa pra você e não fazem o passe extra pra você”.

Fatality!

Muito obrigado Derek Fisher, obrigado mesmo. Isso é o que digo há anos: os juízes só serão decisivos num jogo se eles pegarem na bola e marcar pontos. Pra não dizer que isto nunca aconteceu, um juiz interferiu diretamente numa partida de futebol, marcando gol pro Palmeiras contra o Santos (Campeonato Paulista de 1983 – veja vídeo).

Essa declaração do Fisher o faz que eu admire mais ainda como um jogador classe A. Nada pode ser mais perfeito que esse posicionamento do armador, que direciona a responsabilidade do resultado final para quem de fato merece: os jogadores.

O discurso brilhante da equipe do Thunder continuou com Serge Ibaka, ala-pivô:

Não podemos controlar o que os juízes fazem. Nosso trabalho é jogar basquete e a função dos juízes é ver o que acontece. Se disserem que foi cesta, não podemos mudar isto”.

Ótimo!

A unidade na ideia transmitida via imprensa expõe que o elenco tem comando e controle. Reflete amadurecimento de um time essencialmente jovem e que entende o basquete (esporte) de forma real. Não é por nada que o treinador Scott Brooks também deu show ao falar sobre a falta virtual em cima do seu melhor jogador:

Aquilo foi um lance. Tivemos tantas outras jogadas que nós poderíamos fazer melhor para nos colocar em uma posição final para permanecer vivos na partida. Preocupo-me mais com os primeiros oito minutos do jogo [quando o Miami vencia por 18 a 2] do que com esse minuto final”.

Brooks não pode mudar o que o juiz marcou, como Ibaka disse. Agora, ele pode mudar a postura do seu time no começo da partida, que não tem sido boa nos dois primeiros duelos das Finais.

E Kevin Durant?


Repórter: Durant, o que você achou do seu último arremesso?
Durant: Tive uma boa oportunidade e errei.

[Mesmo] Repórter: Você acha que sofreu um contato?
Durant: Errei o arremesso, foi uma boa oportunidade e desperdicei.

[Mesmo] Repórter: Então você está dizendo que você não acredita que sofreu falta?
Durant: Isto foi uma pergunta?

Formidável!

Mania de jornalista, que quer forçar o entrevistado a concordar com aquilo que ele acredita ser o certo, ao invés de deixá-lo simplesmente falar sua opinião.

Durant agiu com excelência e não reclamou por reclamar, nem pôs em outro a responsabilidade que não compete.

Fisher, Ibaka, Brooks e Durant. Representantes do Thunder que exemplificaram o que é estar numa posição que exige hombridade. Nada de “jogar pro ar e pra torcida” dizendo que o juiz foi tendencioso ou coisa do tipo.

Os quatro deram uma lição a todos, explicando a diferença de falta virtual e falta real.

Sim, a NBA usa o virtual (replay) para corrigir falhas, como por exemplo: se a cesta foi antes ou depois do estouro do cronômetro, se foi um arremesso de três ou não... Entretanto há limites para o uso do recurso tecnológico.

Aconteça o que acontecer, conforme destrinchado pelo elenco do Thunder, arbitragem alguma influencia em resultado final de qualquer que seja o jogo.

Por mais que seu comentarista futebolístico preferido diga o contrário.

(GL)
João da Paz

© 1 Ronald Martinez / Getty Images
© 2 Mike Ehrmann / Getty Images

3 comentários:

Eduardo Colli disse...

João bom dia.
Sou autor dos livros "Universo Olímpico" e o "O Brasil nos Jogos Panamericanos".
Seu blog/site é simplesmente o melhor sobre os esportes americanos, sem comparações, simplesmente 10, show de bola.
Creio que você seja o brasileiro com a melhor análise sobre os lances, os nuances, o comportamento e até a alma destes esportes.
Gostaria de descordar em apenas um ponto sobre a arbitragem em geral, no basquetebol um erro é importante, no caso acima, poderia representar o empate da partida, mas significaria algo como 2% dos pontos que o Thunder obteve.
No futebol, o problema é muito, mas muito mais complexo, um gol significa a vitória ou a derrota, um pênalti não marcado pode significar um título, etc.
Ontem, mas uma vez duas pessoas, o árbitro e o auxiliar colocado na linha de fundo, não viram que a bola chutada pelo jogador da Ucrânia (favoreceu a Inglaterra), entrou no gol, o resto do mundo viu, assim como ocorreu na Copa de 2010 (prejudicou a Inglaterra). São muitos exemplos.
Na minha opinião, já passou da hora de aplicar no futebol, os recursos tecnológicos que hoje são usados no tênis, futebol americano, basquete e outros.
Aquela máxima, que o futebol é bom pela discussão se foi gol ou não, só é boa para que manipula resultado.
Abraços
Eduardo Colli

Felipe disse...

Concordo contigo quando diz que o juiz não joga. Até mesmo porque a influência é relativa, ele erra para os dois lados. Mas não podemos deixá-lo sem nenhuma responsabilidade, um árbitro que pode cometer muitos erros que podem prejudicar uma equipe, ou até mesmo estar influenciando conscientemente, só olharmos o campeonato italiano, que existe uma grande corrupção no futebol, com seus constantes escândalos. Ou até mesmo no Brasil que aconteceu recentemente estes casos.
Não dizendo que este jogo em questão teve algum tipo de corrupção. Mas não podemos santificar o arbitro, isso porque ele é humano, ele pode errar, acertar e se corromper.

Anônimo disse...

[2] no Eduardo. Concordo com o texto em relação ao basquete, mas no futebol a coisa é completamente diferente. Como o Eduardo bem frisou, no futebol um gol pode valer a derrota ou a vitória, a classificação ou a eliminação. Acho que já passou da hora de implantar recurso eletrônico no futebol. Não da pra fechar os olhos enquanto uma seleção "conquista" a classificação para a copa do mundo com um gol de mão.

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