Quem vai salvar os Clippers? Uma das franquias mais ridicularizadas dos esportes americanos até que apresenta boas performances em quadra na temporada 2010-11: são 13 vitórias em 37 jogos e 5 delas foram contra fortes equipes (Oklahoma, San Antonio, Denver, Chicago e Miami). O problema maior, porém, está na administração e condução do clube, comandado pelo magnata Donald Sterling (foto acima).
Neste começo de ano surgiram novas denúncias do péssimo tratamento dele com seus jogadores. A mais grave relata a visita de mulheres ao vestiário. Elas comentavam sobre o “belo corpo destes afro-americanos” bem na frente de Sterling. Sua omissão decorria de dois fatos: ele que convidou as meninas para irem até lá e seu comportamento perante os afro-americanos nunca foi nobre.
Isso aconteceu no período que o lendário Elgin Baylor, ex-jogador do Los Angeles Lakers e 11 vezes participante do Jogo das Estrelas, exercia o cargo de Vice-Presidente de Basquete – entre 1986 e 2008. Baylor, ao ser demitido, prontamente processou Sterling por preconceito trabalhista, alegando que, pela idade e cor da sua pele, não recebia um salário digno. Histórias de destrato perante atletas afro-americanos dos Clippers foram usadas como argumentos de acusação e tais relatos são repugnantes.
Certa feita, Sterling afirmou que estava “oferecendo muito dinheiro por um pobre garoto negro” – referência a Danny Manning, astro da Universidade Kansas e 1ᵃ escolha no draft de 1988 (Clippers). Em outra ocasião Sterling disse que Baylor queria fazer do seu clube uma fazenda americana “... garotos pobres do sul comandados por um treinador branco...”
Mesmo com estarrecedoras declarações arquivadas em juízo, a NBA representada pelo comissário David Stern nada fez. Sterling infelizmente mostra-se constante na sua loucura e atitudes preconceituosas não são apenas vista nos Clippers. No ramo imobiliário, onde construiu e constrói sua fortuna, Donald proferiu comentários racistas da mesma gravidade, mas neste caso o poder judiciário dos EUA não se calou.
Em 2009 o Departamento de Justiça do governo americano intimou Sterling a pagar uma multa de US$ 2.7 milhões por procedimentos preconceituosos ao negociar seus apartamentos com possíveis inquilinos. Ele não queria alugar suas propriedades para afro-americanos (...fedem e atraem vermes...*) e hispânicos (...fumam, bebem e não fazem mais nada...*). Essa condenação foi a maior quantia financeira já obtida pelo Departamento de Justiça em casos de discriminação.
O dinheiro foi pago sem muito esforço. Mansões localizadas no “triângulo platinado” – formado por Bel-Air e Holmby Hills (bairros de Los Angeles) e pela cidade de Beverly Hills – estão no poder de Sterling. Em 2000, com 63 anos de idade, quase metade dos imóveis de Beverly Hills pertenciam a ele e deste lucrativo negócio saiu a grana para comprar duas franquias da NBA.
Em maio de 1979 um grande amigo que também era dono de inúmeros imóveis ao redor de Los Angeles, Jerry Buss, estava prestes a adquirir a franquia Lakers, contudo faltava pouco menos de US$ 3 milhões de dólares para efetuar a transação. Sterling resolveu ajudar e ao invés de emprestar dinheiro ao colega, comprou 11 apartamentos na cidade de Santa Monica que eram de Jerry, que assim pôde finalizar a aquisição do clube.
Depois de dois anos de muita insistência do amigo Buss, queria vê-lo dono de uma franquia na associação, Sterling juntou US$ 13 milhões e comprou os Clippers – então com sede na cidade de San Diego. Em 1984 o time mudou para Los Angeles sem aprovação da NBA, que multou o clube em US$ 24 milhões. Sterling respondeu com um processo contra a NBA no valor de US$ 100 milhões e ambos entraram num acordo: os Clippers ficam em LA, mas uma multa será paga de US$ 6 milhões.
Assim aconteceu e estavam na mesma cidade os dois amigos novamente dividindo o mesmo campo de trabalho. Os apartamentos “fontes de verdinhas” não foram abandonados, só tiveram que ceder um espaço na agenda para uma nova atividade. Contudo um foi bem sucedido (Buss) e outro também (Sterling) – quer dizer, nem tanto.
Os Lakers se tornaram sinônimo de títulos e vitórias. Os Clippers se tornaram sinônimo de chacotas e derrotas. O clube tricolor de LA não obtém resultados positivos na tabela de classificação, já na tabela de dívidas o resultado não é negativo: é uma de três franquias da NBA que não tem saldo devedor (Knicks e Pistons) segundo avaliação da revista Forbes [Ed. Setembro/09]. Os relatórios de recursos do clube só conhecem a cor azul.
Quando o torcedor recebe essa informação fica indignado: como pode um clube ter dinheiro e não gastar? Pois é, bem vindo ao “mundo Clippers”. Todos os treinadores que passaram pelo clube nos últimos 30 anos sabem desta conversa. Mike Dunleavy, técnico de 2003 a 2010, pondera que a preocupação maior de Sterling é lucrar. Os dois conversavam sobre um jogador e o dono dizia que logo entraria em contato para resolver a situação – o logo nunca chegava porque os atletas requisitados eram sempre de alto valor.
Se for do naipe de Ryan Gomes e Randy Foye, então está tudo certo. Numa recente entrevista coletiva ao comentar sobre o time desta temporada, Sterling soltou esta pérola: “Caso eu realmente mandasse, não teria contratado Gomes e... como é o nome do outro cara?” e tinha espaço para outra preciosidade: “Juro que nunca ouvi falar destes jogadores, mas e se o treinador disse que precisava deles?”.
O nível de preocupação aumenta ao ver com a camisa dos Clippers um brilhante jogador de nome Blake Griffin, responsável por aumento de público no Staples Center e de jogos do time transmitidos na TV, fadado ao papel de turista. Alguns anos vão passar e na primeira oportunidade ele vai sair para um time competitivo; a não ser que Sterling resolva gastar o seu dinheiro e montar um elenco vitorioso. Eis um sinal dos tempos!
Ou o mundo acaba em 2012 ou Griffin assina uma extensão de contrato. Qualquer destas ações irá salvar os Clippers.
Neste começo de ano surgiram novas denúncias do péssimo tratamento dele com seus jogadores. A mais grave relata a visita de mulheres ao vestiário. Elas comentavam sobre o “belo corpo destes afro-americanos” bem na frente de Sterling. Sua omissão decorria de dois fatos: ele que convidou as meninas para irem até lá e seu comportamento perante os afro-americanos nunca foi nobre.
Isso aconteceu no período que o lendário Elgin Baylor, ex-jogador do Los Angeles Lakers e 11 vezes participante do Jogo das Estrelas, exercia o cargo de Vice-Presidente de Basquete – entre 1986 e 2008. Baylor, ao ser demitido, prontamente processou Sterling por preconceito trabalhista, alegando que, pela idade e cor da sua pele, não recebia um salário digno. Histórias de destrato perante atletas afro-americanos dos Clippers foram usadas como argumentos de acusação e tais relatos são repugnantes.
Certa feita, Sterling afirmou que estava “oferecendo muito dinheiro por um pobre garoto negro” – referência a Danny Manning, astro da Universidade Kansas e 1ᵃ escolha no draft de 1988 (Clippers). Em outra ocasião Sterling disse que Baylor queria fazer do seu clube uma fazenda americana “... garotos pobres do sul comandados por um treinador branco...”
Mesmo com estarrecedoras declarações arquivadas em juízo, a NBA representada pelo comissário David Stern nada fez. Sterling infelizmente mostra-se constante na sua loucura e atitudes preconceituosas não são apenas vista nos Clippers. No ramo imobiliário, onde construiu e constrói sua fortuna, Donald proferiu comentários racistas da mesma gravidade, mas neste caso o poder judiciário dos EUA não se calou.
Em 2009 o Departamento de Justiça do governo americano intimou Sterling a pagar uma multa de US$ 2.7 milhões por procedimentos preconceituosos ao negociar seus apartamentos com possíveis inquilinos. Ele não queria alugar suas propriedades para afro-americanos (...fedem e atraem vermes...*) e hispânicos (...fumam, bebem e não fazem mais nada...*). Essa condenação foi a maior quantia financeira já obtida pelo Departamento de Justiça em casos de discriminação.
O dinheiro foi pago sem muito esforço. Mansões localizadas no “triângulo platinado” – formado por Bel-Air e Holmby Hills (bairros de Los Angeles) e pela cidade de Beverly Hills – estão no poder de Sterling. Em 2000, com 63 anos de idade, quase metade dos imóveis de Beverly Hills pertenciam a ele e deste lucrativo negócio saiu a grana para comprar duas franquias da NBA.
Em maio de 1979 um grande amigo que também era dono de inúmeros imóveis ao redor de Los Angeles, Jerry Buss, estava prestes a adquirir a franquia Lakers, contudo faltava pouco menos de US$ 3 milhões de dólares para efetuar a transação. Sterling resolveu ajudar e ao invés de emprestar dinheiro ao colega, comprou 11 apartamentos na cidade de Santa Monica que eram de Jerry, que assim pôde finalizar a aquisição do clube.
Depois de dois anos de muita insistência do amigo Buss, queria vê-lo dono de uma franquia na associação, Sterling juntou US$ 13 milhões e comprou os Clippers – então com sede na cidade de San Diego. Em 1984 o time mudou para Los Angeles sem aprovação da NBA, que multou o clube em US$ 24 milhões. Sterling respondeu com um processo contra a NBA no valor de US$ 100 milhões e ambos entraram num acordo: os Clippers ficam em LA, mas uma multa será paga de US$ 6 milhões.
Assim aconteceu e estavam na mesma cidade os dois amigos novamente dividindo o mesmo campo de trabalho. Os apartamentos “fontes de verdinhas” não foram abandonados, só tiveram que ceder um espaço na agenda para uma nova atividade. Contudo um foi bem sucedido (Buss) e outro também (Sterling) – quer dizer, nem tanto.
Os Lakers se tornaram sinônimo de títulos e vitórias. Os Clippers se tornaram sinônimo de chacotas e derrotas. O clube tricolor de LA não obtém resultados positivos na tabela de classificação, já na tabela de dívidas o resultado não é negativo: é uma de três franquias da NBA que não tem saldo devedor (Knicks e Pistons) segundo avaliação da revista Forbes [Ed. Setembro/09]. Os relatórios de recursos do clube só conhecem a cor azul.
Quando o torcedor recebe essa informação fica indignado: como pode um clube ter dinheiro e não gastar? Pois é, bem vindo ao “mundo Clippers”. Todos os treinadores que passaram pelo clube nos últimos 30 anos sabem desta conversa. Mike Dunleavy, técnico de 2003 a 2010, pondera que a preocupação maior de Sterling é lucrar. Os dois conversavam sobre um jogador e o dono dizia que logo entraria em contato para resolver a situação – o logo nunca chegava porque os atletas requisitados eram sempre de alto valor.
Se for do naipe de Ryan Gomes e Randy Foye, então está tudo certo. Numa recente entrevista coletiva ao comentar sobre o time desta temporada, Sterling soltou esta pérola: “Caso eu realmente mandasse, não teria contratado Gomes e... como é o nome do outro cara?” e tinha espaço para outra preciosidade: “Juro que nunca ouvi falar destes jogadores, mas e se o treinador disse que precisava deles?”.
O nível de preocupação aumenta ao ver com a camisa dos Clippers um brilhante jogador de nome Blake Griffin, responsável por aumento de público no Staples Center e de jogos do time transmitidos na TV, fadado ao papel de turista. Alguns anos vão passar e na primeira oportunidade ele vai sair para um time competitivo; a não ser que Sterling resolva gastar o seu dinheiro e montar um elenco vitorioso. Eis um sinal dos tempos!
Ou o mundo acaba em 2012 ou Griffin assina uma extensão de contrato. Qualquer destas ações irá salvar os Clippers.
(GL)
Escrito por João da Paz
Escrito por João da Paz
*Frases contidas na ação citada
© 1 Getty Images
2 comentários:
Como sempre no esporte, após uma crítica, a gente sempre queima a língua. Clippers venceram o Lakers. Mas adorei o texto. Parabéns e continue incentivando os esportes americanos no Brasil, as vezes o futebol não aprende a evoluir com eles també.
Belo texto !Parabéns !
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