O Leviatã socialista que é a rica NFL


A maior liga esportiva do mundo entra em mais uma temporada com a perspectiva de crescer mais e mais. Não existe campeonato que se iguale a NFL; ela chegou ao topo e permanece lá com um comando forte, mistura de autoritarismo absolutista com um tchan de caridade socialista. Fórmula que lhe rende uma grana exorbitante, livre de qualquer interferência.

O rendimento da NFL em 2012 rondou a casa dos US$ 9 bilhões – para 2013 a projeção é que ultrapasse os 10 bi. Somatória de acordos televisivos de grande lucro, patrocinadores com cotas altíssimas e a paixão do torcedor que consome loucamente produtos licenciados dos franqueados. O escudo da liga é tão poderoso que manchá-lo custa, sendo melhor acalmar os ânimos exaltados ao invés de defender cegamente um ponto de vista. Assim foi feito para encerrar o processo de ex-jogadores contra a liga e o suposto descaso dela contra as lesões na cabeça dos atletas (concussões).

Um cala boca de US$ 765 milhões resolveu o imbróglio.

A NFL fechou acordo na semana passada junto aos que a processaram. Ela usou a carta poderosa do Estado controlador, aquele que indica quem manda e quem obedece. Uma posição tomada sem perspectiva que alguém, ou alguma coisa, pudesse enfrentar de frente. Era aceitar, acatar e seguir.

Numa estratégia minuciosamente elaborada, a NFL aproveitou a comoção do assunto concussões, em momentos presentes e passados, e reverteu a seu favor um provável linchamento pública, que seria suficiente para estragar os negócios.

Então um “troco de bar” foi posto na mesa de negociações e o conselho do juiz foi para que os advogados da acusação abraçassem a proposta, pois o caso poderia ser indeferido.


O tempo foi ideal para a NFL, encerrando esse problema antes do começo da temporada 2013-14, eliminando o assunto da pauta diária da mídia. Os jogadores que sofrem problemas sérios devido concussões adquiridas por anos jogando por clubes da NFL, terão um dinheiro mais do que bem vindo para aplicarem em seus tratamentos. Esse último detalhe, aliás, foi o definidor principal do fim desse caso.

Entra em cena o aspecto emocional. Jogadores com lesões neurológicas estão sofrendo (e muito). Gastos com tratamento médico, desgaste psicológico... A acusação chegou a pedir, na conversa de mediação, US$ 2 bilhões para a NFL, valor que a liga não estava disposta a pagar. Os 765 mi foram apresentados no estilo pegar ou largar. Largar e lutar por mais deixaria os que agora precisam de dinheiro padecendo com mais pesar.

Quem tem Alzheimer, encefalopatia crônica, mal de Parkinson e outras patologias relacionadas receberão assistência imediata. Todos os ex-jogadores da NFL que apresentarem essas doenças podem entrar no novo plano, e não somente os que protocolaram o processo (mais de 4.500 ex-jogadores). As famílias dos jogadores também serão assistidas – incluindo casos de suicídio.

O ponto positivo para a acusação é que essa medida vai vigorar dentro dos próximos 60 anos. Além do fato do depósito imediato para os ex-atletas doentes, visto que a imensa maioria deles está falida. A parte negativa é que a NFL não teve de fazer admissão alguma sobre transgressão ou infração no cuidado com as constantes lesões cerebrais que jogadores da liga sofrem a cada jogo; nem foi obrigada a tornar público documentos sobre como trata as concussões.

A força da NFL mais uma vez sobressaiu. E a partilha não é só praticada na fartura, fatiando entre as 32 franquias os contratos assinados com as emissoras televisivas. A conta desse processo será paga, em parte pelos membros da liga. Cada franquia desembolsará cerca de US$ 1,2 milhões nos próximos 20 anos para quitar o acordo. Agora pense: se em 2013 o rendimento da NFL é estimado em US$ 10 bilhões, imagina em 2023, 2033...

Uma merreca – como nós brasileiros falamos. Ou dinheiro de amendoim – como dizem os americanos. Em seu relatório anual sobre as franquias da NFL, a revista Forbes calculou que o valor médio de cada clube da liga, ganhando com folga das “concorrentes”:

Valor de cada clube (média)
- NFL: US$ 1.17 bilhões (32 times)
- Futebol: US$ 968 milhões (agrupando os 20 times mais valiosos do mundo)
- MLB: 744 mi (30 times)
- NBA: 509 mi (30 times)

O Estado da NFL é de privilégio, não de direitos. Uma frase mequetrefe, mas que soa como uma espécie de mantra para o comissário da liga, Roger Goodell. Ele gere essa gigante com um pensamento bem progressista, com raízes no lucro e retidão pela imagem. O comunismo é palavrão, porém não é interessante que o Dallas Cowboys fique no topo das franquias mais valiosas e o Oakland Raiders, mesmo que com méritos, zelo e vigor, seja a franquia de menor valor. Para que a NFL goze da supremacia, o ideal é ter todas as franquias bem, de preferência num rodízio, com oportunidades para todas competirem e conquistarem vitórias/títulos.

Uma pitada inofensiva de socialismo é jogada no caldeirão.

Quem fica de fora da farra é o governo americano. O Leviatã NFL é tão monstro, uma carta magic tão top, que seu registro no cartório é de uma organização sem fins lucrativos, ou seja: sem impostos para o bolso do Tio Sam.


(GL)
Escrito por João da Paz

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