Bandidos? Suspeitos?
Não. Estas 13 pessoas da foto, usando um casaco (hoodie) do Miami Heat, são atletas da franquia que jogaram contra o Detroit Pistons ontem à noite – Mike Miller e Shane Battier não estão na foto porque não viajaram com o time para a cidade do motor.
Numa iniciativa que começou com a mulher do Dwyane Wade, a atriz Gabrielle Union, o camisa 3 do Heat, junto com LeBron James, organizaram esta foto no hotel em que estavam para protestar contra a morte de Trayvon Martin. LeBron colocou na sua conta pessoal no Twitter a imagem com a hashtag #WeAreTrayvonMartin (#SomosTrayvonMartin).
Martin, 17 anos, foi assassinado por um guarda de bairro no dia 26 de Fevereiro deste ano na cidade de Sanford, estado da Florida. O adolescente estava visitando seu pai e voltava de um mercadinho onde foi comprar bala e um chá gelado. Martin usava um casaco e estava com a toca na cabeça quando o vigilante George Zimmerman atirou no garoto. Apesar da polícia local investigar o caso, Zimmerman não foi acusado de nenhum crime.
Existe uma lei no estado da Flórida que permite o “atire primeiro e pergunte depois”, o que Zimmerman alega. Ele diz que agiu em legítima defesa. O estado permite que usem armas caso isto aconteça.
Porém, as informações mostram que Martin estava simplesmente andando com um casaco, toca na cabeça e um pacote de balas e chá gelada nas mãos. Por ser afro-americano, reascendeu nos Estados Unidos o debate sobre o racismo. Ver alguém andando por aí, num bairro de elite ou periférico, usando um casaco pode ser perigoso... (?)
O filme “Crash – No Limite” (vencedor do Oscar de melhor filme em 2006 – PS: melhor filme que assisti) debate este tema de uma forma polêmica, mas com traços de realidade. As personagens de Ludacris e Larenz Tate discutem, no começo, o papel do afro-americano na sociedade americana. É uma conversa esquisita porque ambos são bandidos e estão planejando um assalto. As vítimas são as personagens de Sandra Bullock (Jean) e Brendan Fraser (Rick). Antes de ser surpreendido pelos assaltantes, o casal atravessa a rua porque estão andando em direção dos dois homens. Rick então fala com Jean porque fez isto. Os bandidos percebem o que aconteceu e conversam:
“- Espera... Viu o que aquela mulher fez? (Tate)
- Não começa... Olhe à sua volta. (Ludacris)
- Você não conseguiria achar uma área da cidade mais branca, segura e iluminada. E, mesmo assim, essa branquela vê dois negros que parecem universitários caminhando pela calçada e a sua reação é de medo? Olhe para nós. Por acaso usamos roupas de assaltantes? Não. Parecemos ameaçadores? Não. É... Se alguém deveria ter medo por aqui, somos nós! Somos os dois únicos negros rodeados por um mar de brancos com excesso de cafeína e patrulhados pela violenta polícia de Los Angeles (Tate)”
Nos Estados Unidos chamam de perfil racial, achar que determinado tipo de pessoa, usando determinada peça de roupa, andando de determinado jeito, falando de um determinado modo é um bandido/suspeito de alguma coisa. No Brasil é possível ver isto no cotidiano de cada um, seja em qual cidade/região for. Há este perfil racial.
Mal sabem que os grandes bandidos da nação usam terno, ganham dinheiro público e praticam seus atos criminosos usando uma caneta Cartier...
Embora os EUA tenham um presidente afro-americano, Barack Obama, e que esta parcela da sociedade tenha alcançado grandes conquistas, a vida diária ainda prega essas infelicidades. Ontem Obama deu uma forte declaração, que incentivou ainda mais os jogadores do Heat a fazerem o simbólico protesto:
“Se eu tivesse um filho, ele seria parecido com Trayvon Martin” – Obama tem duas filhas.
Dos jogadores do Heat, alguns se comoveram de forma especial com este caso. James Jones e Udonis Haslem foram criados no mesmo subúrbio que Martin cresceu: Miami Gardens. Mas com Wade foi mais profundo.
Sua mulher, Gabrielle, o deixava a par de tudo que ocorrera no dia do assassinato de Martin e fazia atualizações de como a investigação caminhava e a repercussão na imprensa. Wade e Gabrielle receberam LeBron em sua residência - como fazem constantemente – e os três debatiam a delicada situação. Então, Wade lembrou que no último natal, seus filhos mais velhos pediram de presente um casaco com toca, igual ao que Martin usou no dia da sua morte, igual ao que os jogadores do Heat usaram na foto-protesto.
Wade colocou no avatar da conta do Twitter uma foto sua usando um hoodie.
O que os jogadores do Heat fizeram foi corajoso porque colocou a marca do clube na ira que transformaram em imagem. E o registro ganha força extra justamente por ter o apoio da franquia. O dono do Heat, Micky Arison, divulgou em nota:
“Nós apoiamos nossos jogadores e juntamos a eles na esperança que a suas imagens e nosso logo possam ajudar no diálogo nacional que ajude a curar nossa nação”.
Casos tristes como o de Martin servem para rever conceitos. Infelizmente uma vida tem de ser perdida para que certos posicionamentos sejam reavaliados. Martin foi o único nas últimas semanas que sofreu preconceito? Não. Porém a sua causa foi abraçada por gente de peso e serve como exemplo para que a justiça seja feita e que o alerta permaneça para que acabe com o tal do perfil racial.
Uma luta árdua de ser travada, mas do lado certo está a força maior. Uma simples declaração do presidente Obama se torna poderosa pelo seu teor. Uma simples foto traz uma mensagem eficaz pelo simbolismo.
#WeAreTrayvonMartin
Eu também.
Não. Estas 13 pessoas da foto, usando um casaco (hoodie) do Miami Heat, são atletas da franquia que jogaram contra o Detroit Pistons ontem à noite – Mike Miller e Shane Battier não estão na foto porque não viajaram com o time para a cidade do motor.
Numa iniciativa que começou com a mulher do Dwyane Wade, a atriz Gabrielle Union, o camisa 3 do Heat, junto com LeBron James, organizaram esta foto no hotel em que estavam para protestar contra a morte de Trayvon Martin. LeBron colocou na sua conta pessoal no Twitter a imagem com a hashtag #WeAreTrayvonMartin (#SomosTrayvonMartin).
Martin, 17 anos, foi assassinado por um guarda de bairro no dia 26 de Fevereiro deste ano na cidade de Sanford, estado da Florida. O adolescente estava visitando seu pai e voltava de um mercadinho onde foi comprar bala e um chá gelado. Martin usava um casaco e estava com a toca na cabeça quando o vigilante George Zimmerman atirou no garoto. Apesar da polícia local investigar o caso, Zimmerman não foi acusado de nenhum crime.
Existe uma lei no estado da Flórida que permite o “atire primeiro e pergunte depois”, o que Zimmerman alega. Ele diz que agiu em legítima defesa. O estado permite que usem armas caso isto aconteça.
Porém, as informações mostram que Martin estava simplesmente andando com um casaco, toca na cabeça e um pacote de balas e chá gelada nas mãos. Por ser afro-americano, reascendeu nos Estados Unidos o debate sobre o racismo. Ver alguém andando por aí, num bairro de elite ou periférico, usando um casaco pode ser perigoso... (?)
O filme “Crash – No Limite” (vencedor do Oscar de melhor filme em 2006 – PS: melhor filme que assisti) debate este tema de uma forma polêmica, mas com traços de realidade. As personagens de Ludacris e Larenz Tate discutem, no começo, o papel do afro-americano na sociedade americana. É uma conversa esquisita porque ambos são bandidos e estão planejando um assalto. As vítimas são as personagens de Sandra Bullock (Jean) e Brendan Fraser (Rick). Antes de ser surpreendido pelos assaltantes, o casal atravessa a rua porque estão andando em direção dos dois homens. Rick então fala com Jean porque fez isto. Os bandidos percebem o que aconteceu e conversam:
“- Espera... Viu o que aquela mulher fez? (Tate)
- Não começa... Olhe à sua volta. (Ludacris)
- Você não conseguiria achar uma área da cidade mais branca, segura e iluminada. E, mesmo assim, essa branquela vê dois negros que parecem universitários caminhando pela calçada e a sua reação é de medo? Olhe para nós. Por acaso usamos roupas de assaltantes? Não. Parecemos ameaçadores? Não. É... Se alguém deveria ter medo por aqui, somos nós! Somos os dois únicos negros rodeados por um mar de brancos com excesso de cafeína e patrulhados pela violenta polícia de Los Angeles (Tate)”
Nos Estados Unidos chamam de perfil racial, achar que determinado tipo de pessoa, usando determinada peça de roupa, andando de determinado jeito, falando de um determinado modo é um bandido/suspeito de alguma coisa. No Brasil é possível ver isto no cotidiano de cada um, seja em qual cidade/região for. Há este perfil racial.
Mal sabem que os grandes bandidos da nação usam terno, ganham dinheiro público e praticam seus atos criminosos usando uma caneta Cartier...
Embora os EUA tenham um presidente afro-americano, Barack Obama, e que esta parcela da sociedade tenha alcançado grandes conquistas, a vida diária ainda prega essas infelicidades. Ontem Obama deu uma forte declaração, que incentivou ainda mais os jogadores do Heat a fazerem o simbólico protesto:
“Se eu tivesse um filho, ele seria parecido com Trayvon Martin” – Obama tem duas filhas.
Dos jogadores do Heat, alguns se comoveram de forma especial com este caso. James Jones e Udonis Haslem foram criados no mesmo subúrbio que Martin cresceu: Miami Gardens. Mas com Wade foi mais profundo.
Sua mulher, Gabrielle, o deixava a par de tudo que ocorrera no dia do assassinato de Martin e fazia atualizações de como a investigação caminhava e a repercussão na imprensa. Wade e Gabrielle receberam LeBron em sua residência - como fazem constantemente – e os três debatiam a delicada situação. Então, Wade lembrou que no último natal, seus filhos mais velhos pediram de presente um casaco com toca, igual ao que Martin usou no dia da sua morte, igual ao que os jogadores do Heat usaram na foto-protesto.
Wade colocou no avatar da conta do Twitter uma foto sua usando um hoodie.
O que os jogadores do Heat fizeram foi corajoso porque colocou a marca do clube na ira que transformaram em imagem. E o registro ganha força extra justamente por ter o apoio da franquia. O dono do Heat, Micky Arison, divulgou em nota:
“Nós apoiamos nossos jogadores e juntamos a eles na esperança que a suas imagens e nosso logo possam ajudar no diálogo nacional que ajude a curar nossa nação”.
Casos tristes como o de Martin servem para rever conceitos. Infelizmente uma vida tem de ser perdida para que certos posicionamentos sejam reavaliados. Martin foi o único nas últimas semanas que sofreu preconceito? Não. Porém a sua causa foi abraçada por gente de peso e serve como exemplo para que a justiça seja feita e que o alerta permaneça para que acabe com o tal do perfil racial.
Uma luta árdua de ser travada, mas do lado certo está a força maior. Uma simples declaração do presidente Obama se torna poderosa pelo seu teor. Uma simples foto traz uma mensagem eficaz pelo simbolismo.
#WeAreTrayvonMartin
Eu também.
(GL)
Escrito por João da Paz
Escrito por João da Paz
Um comentário:
EU NÃO SABIA DESTE CASO ATÉ ESTE MOMENTO, AGORA SÃO 01:17 DA MADRUGADA, DE SÁBADO 24/03 PARA 25/03 DE DOMINGO. TRABALHO EM LOJA DE SHOPPING E ESTÁ MUITO DIFÍCIL DE ACOMPANHAR AS NOTÍCIAS E SEMPRE QUE PROCURO POR ELAS ACABO LENDO SOMENTE OS TÍTULOS DAS NOTÍCIAS. ENTREI NO SITE DO GOOGLE E NELE CLIQUEI EM NOTÍCIAS E LÁ ESTAVA UMA NOTA SOBRE O PROTESTO DOS JOGADORES DO MIAMI HEAT EM RELAÇÃO A TRAYVON MARTIN. ATÉ QUANDO VAMOS ATURAR O PRECONCEITO NO MUNDO? SERÁ PRECISO MORRER MAIS TRAYVONS MARTINS PARA QUE O MUNDO E ESPECIALMENTE A AMÉRICA DEIXEM DE SER PRECONCEITUOSOS E ENTENDAM QUA COR DE PELE NÃO SIGNIFICA EXATAMENTE SE A PESSOA TEM BOA ÍNDOLE OU NÃO? SÓ LEMBRAM QUE NEGRO TAMBÉM É SER HUMANO COMO QUALQUER BRANCO, AMARELO OU PARDO QUANDO UM DELES É ASSASSINADO? NEGRO SÓ É BEM LEMBRADO QUANDO TEM UMA MORTE VIOLENTA? SÓ PARA FINALIZAR: EU TAMBÉM SOU TRAYVON MARTIN E NESTE MOMENTO GOSTARIA DE ESTAR PARTICIPANDO DE QUALQUER PASSEATA DE PROTESTO, PORQUE SÓ ASSIM ESTARIA FAZENDO ALGO PARA MUDAR ESSE MUNDO DOENTE DE MAUS PENSAMENTOS E SENTIMENTOS. TERMINO MEU PEQUENO PROTESTO A 01:30 DA MANHÃ. R.I.P TRAYVON MARTIN, QUE DEUS ESTEJA COM VOCÊ.
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