Num movimento para agradar público e mídia, o novo treinador do Boston Red Sox, Bobby Valentine, proibiu consumo de bebidas alcoólicas no vestiário (clubhouse) e nos voos quando o time retorna para Boston. Apesar de ser mais um entre outros 20 clubes da MLB que impedem, essencialmente, cerveja entre seus atletas, outros 10 não fazem o mesmo e a liga se cala neste sentido porque não tem moral pra falar sobre o assunto.
Isto até quando uma franquia filiada a ela se chamar “Cervejeiros” (Brewers) – assunto pra daqui a pouco.
Na questão Red Sox, o antecessor de Valentine, hoje comentarista Terry Francona, disse que esta ação foi algo que partiu do pressuposto de melhorar a imagem do clube, uma medida de Relações Públicas. Claro, Valentine contestou se sustentando que quando comandava o New York Mets, entre 1996 até 2002, também baniu álcool por lá.
O porém é que desde o final da temporada passada, quando foi vazado por alguém de dentro da franquia que alguns membros do elenco estavam bebendo no vestiário enquanto um jogo rolava dentro de campo, a reputação dos Red Sox foi arranhada e se nada fosse feito, ficaria uma situação na qual o clube poderia ser rotulado de omisso e/ou conivente.
Os Red Sox optaram por tratar seus adultos como crianças (o que não tem nada de errado nisto) e decidiu por dezenas de homens que deveriam saber bem o que fazem e em que lugar. A única via era agir no campo das Relações Públicas, não tem porque negar.
Um ponto central é o gerenciamento de crises, no caso uma crise de imagem. Junto com o vazamento da fofoca, tem em anexo o colapso do time na parte final da temporada regular do ano passado quando, na última rodada, deixou de se classificar aos playoffs. A fofoca foi isolada e não teve nenhum efeito direto relacionado ao que aconteceu no diamond, mas para o público em geral a percepção é outra, de descaso.
Logo, precisou alguém aparecer para analisar como a mídia estava reportando essa história e como o público reagia. Um estudo do relacionamento da instituição com quem está de fora. Como o resultado final era retomar a imagem positiva do clube, banir bebidas alcoólicas foi a ação que contribuiu para tanto.
Para entender melhor, eis o que diz parte de um decreto de 1968 que formaliza a categoria de Relações Públicas no Brasil, expondo uma das funções do profissional que diz respeito:
d) ao assessoramento na solução de problemas institucionais que influem na posição da entidade perante a opinião pública
Este posicionamento dos Red Sox é puramente individual, interessa só à franquia. Nada garante que isto vai ser cumprido e muito provavelmente não será. Se os jogadores quiserem, sempre vai ter alguém pra lhes entregar uma “geladinha”. Mas perante a opinião pública (imprensa/mídia) o clube tá bem, tomou uma atitude.
Quando cobria um time de futebol do interior de Pernambuco presenciei algo do tipo. Vários jogadores moravam num alojamento que tinha determinadas regras, inclusive um toque de recolher às 22h. Entre as regras estava a proibição de bebidas dentro do alojamento. Os jogadores até obedeciam – o toque de recolher –, mas em questão das bebidas... Faziam um esquema para um cara entregar cervejas e afins num certo lugar. Todos sabiam, inclusive gente da diretoria, entretanto a percepção que se tinha era que todos os atletas estavam bem comportadinhos no alojamento, todos dormindo às 22h. De certa forma, era melhor beber lá dentro, sem ninguém ver, do que estar num bar qualquer e um torcedor flagrar; aí vai até a imprensa, tira foto, divulga na internet...
É o que Francona comentou: “se os jogadores quiserem, vão encontrar bebidas”. Impedir isto é difícil. Se não for no vestiário será em outro lugar.
Ao ser questionado sobre esse assunto, o treinador do Tampa Bay Rays, Joe Maddon, foi excelente e enfático na sua posição:
“Não somos o Boston Red Sox. Disse mais de cem vezes: para mim, no final das contas, prefiro que nossos jogadores tomem boas decisões e se você é maior de idade e pode beber, então é game over. Você suou bastante, perdeu vários quilos e quer sentar, descansar e tomar uma cerveja. Não vejo nada de errado nisto”.
Ron Gardenhire, treinador do Minnesota Twins, disse:
“Cada um cuida do seu: lá são os Red Sox aqui é diferente. Lá eles têm as suas políticas internas, aqui temos a nossa. Não vamos mudar, estamos bem”.
São exemplos de duas franquias que não irão alterar como administram a questão da bebida na clubhouse. E a MLB, não tem autoridade pra criar um padrão, banir de vez em todos os vestiários?
Autoridade tem, não tem moral.
Como a liga vai falar alguma coisa se uma das suas franquias tem cerveja no nome? E os estádios com nome de marcas de cerveja: Coors Field – Cervejaria Coors (estádio do Colorado Rockies); Busch Stadium – Cervejaria Anheuser-Busch Inbev, produz a Budweiser (estádio do Saint Louis Cardinals); e Miller Park – Cervejaria Miller Brewing (estádio do Milwaukee Brewers)?
Isto sem citar os patrocínios diretos com estas e outras cervejarias. Como banir bebida alcoólica nos clubes se há um envolvimento tão grande com as empresas do ramo?
Um dia pode acontecer? Pode, mas improvável que venha uma ordem de cima, os clubes terão, assim como fazem, de tomar as próprias decisões conforme acharem necessário.
Os 10 clubes que permitem bebidas no vestiário não são complacentes com um mau comportamento num ambiente de trabalho. Queiram ou não, quem ganha milhões de dólares por mês têm regalias que um trabalhador comum não tem. São privilégios que existem e não só com atletas, mas em outras profissões diferenciadas.
E vestiário não é ambiente de trabalho! Local em que homens andam pelados, brincam de "guerra da toalha", ouvem música alta, usam os mais variados palavrões...
Se este tópico for posto à mesa para discussão, é pior o que os jogadores de beisebol fazem no verdadeiro ambiente de trabalho deles: o campo de jogo. Mastigam tabaco, cospem no chão e coçam a virilha. Isto em frente de milhares de pessoas – e de câmeras que levam esta “didática e instrutiva” imagem a milhões pelo mundo afora.
Isto até quando uma franquia filiada a ela se chamar “Cervejeiros” (Brewers) – assunto pra daqui a pouco.
Na questão Red Sox, o antecessor de Valentine, hoje comentarista Terry Francona, disse que esta ação foi algo que partiu do pressuposto de melhorar a imagem do clube, uma medida de Relações Públicas. Claro, Valentine contestou se sustentando que quando comandava o New York Mets, entre 1996 até 2002, também baniu álcool por lá.
O porém é que desde o final da temporada passada, quando foi vazado por alguém de dentro da franquia que alguns membros do elenco estavam bebendo no vestiário enquanto um jogo rolava dentro de campo, a reputação dos Red Sox foi arranhada e se nada fosse feito, ficaria uma situação na qual o clube poderia ser rotulado de omisso e/ou conivente.
Os Red Sox optaram por tratar seus adultos como crianças (o que não tem nada de errado nisto) e decidiu por dezenas de homens que deveriam saber bem o que fazem e em que lugar. A única via era agir no campo das Relações Públicas, não tem porque negar.
Um ponto central é o gerenciamento de crises, no caso uma crise de imagem. Junto com o vazamento da fofoca, tem em anexo o colapso do time na parte final da temporada regular do ano passado quando, na última rodada, deixou de se classificar aos playoffs. A fofoca foi isolada e não teve nenhum efeito direto relacionado ao que aconteceu no diamond, mas para o público em geral a percepção é outra, de descaso.
Logo, precisou alguém aparecer para analisar como a mídia estava reportando essa história e como o público reagia. Um estudo do relacionamento da instituição com quem está de fora. Como o resultado final era retomar a imagem positiva do clube, banir bebidas alcoólicas foi a ação que contribuiu para tanto.
Para entender melhor, eis o que diz parte de um decreto de 1968 que formaliza a categoria de Relações Públicas no Brasil, expondo uma das funções do profissional que diz respeito:
d) ao assessoramento na solução de problemas institucionais que influem na posição da entidade perante a opinião pública
Este posicionamento dos Red Sox é puramente individual, interessa só à franquia. Nada garante que isto vai ser cumprido e muito provavelmente não será. Se os jogadores quiserem, sempre vai ter alguém pra lhes entregar uma “geladinha”. Mas perante a opinião pública (imprensa/mídia) o clube tá bem, tomou uma atitude.
Quando cobria um time de futebol do interior de Pernambuco presenciei algo do tipo. Vários jogadores moravam num alojamento que tinha determinadas regras, inclusive um toque de recolher às 22h. Entre as regras estava a proibição de bebidas dentro do alojamento. Os jogadores até obedeciam – o toque de recolher –, mas em questão das bebidas... Faziam um esquema para um cara entregar cervejas e afins num certo lugar. Todos sabiam, inclusive gente da diretoria, entretanto a percepção que se tinha era que todos os atletas estavam bem comportadinhos no alojamento, todos dormindo às 22h. De certa forma, era melhor beber lá dentro, sem ninguém ver, do que estar num bar qualquer e um torcedor flagrar; aí vai até a imprensa, tira foto, divulga na internet...
É o que Francona comentou: “se os jogadores quiserem, vão encontrar bebidas”. Impedir isto é difícil. Se não for no vestiário será em outro lugar.
Ao ser questionado sobre esse assunto, o treinador do Tampa Bay Rays, Joe Maddon, foi excelente e enfático na sua posição:
“Não somos o Boston Red Sox. Disse mais de cem vezes: para mim, no final das contas, prefiro que nossos jogadores tomem boas decisões e se você é maior de idade e pode beber, então é game over. Você suou bastante, perdeu vários quilos e quer sentar, descansar e tomar uma cerveja. Não vejo nada de errado nisto”.
Ron Gardenhire, treinador do Minnesota Twins, disse:
“Cada um cuida do seu: lá são os Red Sox aqui é diferente. Lá eles têm as suas políticas internas, aqui temos a nossa. Não vamos mudar, estamos bem”.
São exemplos de duas franquias que não irão alterar como administram a questão da bebida na clubhouse. E a MLB, não tem autoridade pra criar um padrão, banir de vez em todos os vestiários?
Autoridade tem, não tem moral.
Como a liga vai falar alguma coisa se uma das suas franquias tem cerveja no nome? E os estádios com nome de marcas de cerveja: Coors Field – Cervejaria Coors (estádio do Colorado Rockies); Busch Stadium – Cervejaria Anheuser-Busch Inbev, produz a Budweiser (estádio do Saint Louis Cardinals); e Miller Park – Cervejaria Miller Brewing (estádio do Milwaukee Brewers)?
Isto sem citar os patrocínios diretos com estas e outras cervejarias. Como banir bebida alcoólica nos clubes se há um envolvimento tão grande com as empresas do ramo?
Um dia pode acontecer? Pode, mas improvável que venha uma ordem de cima, os clubes terão, assim como fazem, de tomar as próprias decisões conforme acharem necessário.
Os 10 clubes que permitem bebidas no vestiário não são complacentes com um mau comportamento num ambiente de trabalho. Queiram ou não, quem ganha milhões de dólares por mês têm regalias que um trabalhador comum não tem. São privilégios que existem e não só com atletas, mas em outras profissões diferenciadas.
E vestiário não é ambiente de trabalho! Local em que homens andam pelados, brincam de "guerra da toalha", ouvem música alta, usam os mais variados palavrões...
Se este tópico for posto à mesa para discussão, é pior o que os jogadores de beisebol fazem no verdadeiro ambiente de trabalho deles: o campo de jogo. Mastigam tabaco, cospem no chão e coçam a virilha. Isto em frente de milhares de pessoas – e de câmeras que levam esta “didática e instrutiva” imagem a milhões pelo mundo afora.
(GL)
Escrito por João da Paz
Escrito por João da Paz
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Um comentário:
Sempre com textos excelentes, pena que não escreve tanto assim no blog. O que aumenta ainda mais a expectativa para o próximo assunto. Parabéns e continue assim.
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