Persistir no erro é burrice; insistir no acerto é esperteza


Jon Daniels, diretor de beisebol (GM) do Texas Rangers, repetiu um belo gesto após seu clube vencer pelo segundo ano consecutivo a Liga Americana e chegar a World Series. Em entrevista coletiva, o jovem de 33 anos fez questão de dedicar este êxito à sua equipe de bastidores, principalmente os scouts, responsáveis direto pela qualidade que a equipe possui. Com uma folha salarial média – começou a temporada 2011 em 13º na lista de gasto com jogadores – é necessário garimpar talentos e buscar boas ofertas fora e dentro da MLB.

No ano passado foi a mesma coisa: disputou a World Series graças a um grupo jovem e promissor. Daniels, então, assim que teve os microfones direcionados para si, mencionou o eficiente trabalho dos seus scouts. O legal é que no primeiro jogo em casa dos playoffs da série divisional em 2010, o GM convidou todos eles para irem até o montinho e receber uma salva de palmas da torcida.

Esse excelente trabalho de Daniels e seus scouts, junto com os assistentes dele, rendem à franquia um valor significativo. Com a exposição na mídia, vem os patrocinadores, com estes vem o dinheiro e daí pode ser investido mais na folha salarial e manter as estrelas do clube e, possivelmente, contratar um bom jogador à disposição. No campeonato passado isto se concretizou com a aquisição do arremessador Cliff Lee. Após o término, os Rangers optaram por não fazer loucura ao recusar entrar num leilão do atleta, assim o Philadelphia Phillies o contratou. Por ser um dos nomes mais importantes da MLB e parte primordial do time que avançou até a WS, sem ele acreditava-se que os Rangers iriam sucumbir.

Preocupação legítima, mas estavam bem.

Daniels apostou no ataque e foi atrás do 3B Adrian Beltre, talvez a única estrela da liga que vestiu recentemente a camisa tricolor com este status. A maior parte do elenco veio até Texas desacreditado ou sem muito reconhecimento, porém juntos fizeram um conjunto forte e temido; logo construído por indivíduos que consequentemente ganharam seu mérito. Um exemplo é o arremessador CJ Wilson, desejado pelos clubes ricos da MLB, encabeçados pelo New York Yankees, e que será agente livre ao término desta temporada.

Um investimento alto será necessário para renovar com Wilson. Um dos planos é assinar com o jogador e trocá-lo por CC Sabathia, arremessador dos Yankees que poderá escolher ser agente livre – negócio é possível se Sabathia também renovar com NY. Daniels tem outra opção de deixar Wilson livre e esperar Sabathia sair de NY, assim pode fazer uma transação direta com o jogador.

Uma estratégia para ajustar as finanças de acordo com o que o clube pode gastar: jogadores que antes desacreditados (mais baratos) foram formando um competitivo time recheado de grandes destaques (mais caros). Assim uma boa jogada administrativa é bem vinda e Daniels conhece bem as nuances desta porfia.

Formado em Gestão Econômica Aplicada pela Universidade Cornell (membro da Ivy league, conferência das melhores universidades dos EUA), Daniels trabalha com logística de beisebol desde sua chegada na MLB com o Colorado Rockies em 2001 – 24 anos de idade. Quatro anos mais tarde assume a diretoria de beisebol dos Rangers e começa a mudar a metodologia do clube, com apoio de duas pessoas importantes: seus assistentes AJ Preller e Ted Levine.

A Divisão Oeste da Liga Americana tinha um dominador: os Angels. O clube de Los Angeles (Anaheim) ganhou 5 títulos de divisão entre 2004 e 2009 (quem quebrou a sequência foi o Oakland Athletics em 2006). O clube de LA é regido com um marketing melhor e mais agressivo, tem mais dinheiro e mais status. Contudo, nos últimos anos, quem ditou o ritmo na divisão foi o Texas Rangers. Na temporada 2011 isto ficou mais nítido com os Angels terminando o campeonato regular 10 jogos atrás dos Rangers. Dois anos sem ir aos playoffs custou o cargo do diretor de beisebol dos Angels, Tony Reagins, e de seus dois assistentes – um dos candidatos ao posto vago de GM é Levine. Texas conseguiu a primeira colocação com uma larga vantagem mesmo gastando na folha salarial US$ 50 milhões de dólares a menos que seu rival de divisão.

O cuidado com os investimentos e o gasto consciente na aquisição de jogadores continuará sendo o lema principal dos Rangers enquanto Daniels estiver por lá. Porém em 2014 o clube ganhará uma folguinha, uma margem maior para a manutenção e aprimoramento do elenco. A partir do ano da copa, os Rangers entrarão num bilionário acordo com a TV por assinatura local da FOX (Sports Southwest): US$ 1.6 bilhões por 20 anos. Nesta faixa de US$ 80 milhões/ano via TV, só Yankees e Boston Red Sox estão.

Vitórias em campo e exemplo de administração nos bastidores são os alicerces que fazem os Rangers gozar de prestígio e fama. A fórmula que trouxe resultados positivos é repetida e será assim. Como dito aqui no Grandes Ligas há um ano: “Os Rangers têm talento suficiente para ficar por muito tempo na elite da Liga Americana; e este é o plano de Daniels”. O diretor de beisebol disse numa conversa com a filiada local da ABC (TV-WFAA) que a meta é ganhar a WS, criar no clube a cultura de vencedor e competir sempre para ser campeão. Daniels tem sim uma ajuda essencial para manter os Rangers no topo, mas ele é o fundamento principal que direciona e sustenta a franquia.

A modéstia não o deixa assumir os louros das conquistas e na primeira oportunidade agradece o auxílio recebido. Só que a persistência no que acha correto parte das suas intenções, elas que criaram um modelo triunfante, estabelecido pela sua inteligência em saber o que é melhor para si, para seus subordinados, para os jogadores, para os torcedores...



(GL)
Escrito por João da Paz


© 1 John Ricco / NYDN

Um comentário:

Rafael Kafka disse...

Nelson Cruz é um monstro! Crucifica! Primeiro walkoff home run da história da postseason!

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