Tony Parker e a psicologia esportiva


O francês Tony Parker, armador do San Antonio Spurs, inicia a quarta decisão da NBA em 10 temporadas – venceu as outras três, a primeira delas com 21 anos de idade. Uma década de experiências está registrada na mente, no corpo, na carreira. Na casa dos 30, ele é um dos principais destaques da posição na liga, mesmo que a mídia e torcedores só falem dos armadores da nova escola: Russell Westbrrook, Rajon Rondo, Derrick Rose...

Com tanta rodagem, como se manter na elite? Como sobreviver em meio a tantas mudanças no estilo de jogo e figurar entre os melhores? Parker passou por momentos turbulentos desde sua chegada no estrangeiro, no meio da caminhada e no atual cenário de retorno à glória.

A franquia Spurs procurava, em 2001, uma peça para orquestrar o time que estava em processo de reformulação, alguém que substituísse Avery Johnson e Terry Porter. San Antonio tinha a última escolha da primeira rodada no draft daquele ano e o jogador que foi estudado em fitas e mais fitas (sim, fitas VHS) estava disponível. Os Spurs escolheram o franco-belga sem hesitar, mesmo tendo outras opções interessantes (jogadores americanos): Gilbert Arenas, Omar Cook, Will Solomon.

Parker, para os desavisados, foi um achado. Para os Spurs, nada mais que fruto de um árduo trabalho de logística.

O armador vinha com um currículo representativo. Listados estavam o prêmio de revelação do campeonato francês de 2001 (defendendo o Paris Basket Racing), prêmio de MVP do Europeu Sub-18 de 2000 e campeão do mesmo troneio pela França. Logo, não teve moleza nas mãos do treinador Gregg Popovich.

Pop, como é conhecido, exigiu o máximo de Parker na sua temporada de novato, queria que o atleta respondesse rapidamente em quadra, sem massagem. A mesma atitude ocorreu nos dois campeonatos seguintes, os mais difíceis para Parker, acrescentando a adaptação nos Estados Unidos. Ele sentiu no mais alto grau de realismo o quanto é complicado deixar Popovich satisfeito. O esforço do jogador rendia míseros gestos apreciativos. Lição para sempre melhorar e a batalha consigo de se superar a cada dia.

Nessa situação é muito comum notarmos como a maioria desiste. Um teste nível very hard que serve como um atestado de grandeza. Quem não está preparado para ser uma pessoa diferenciada, líder e influente, abaixa a cabeça simplesmente.

O que vem fácil, vai fácil – dizem por aí.

A batalha que Parker travava com seu treinador não teve fim com o título de 2003. Essa temporada é a primeira e única que atuou em todos os 82 jogos do calendário regular, com média de 33 minutos por jogo. Elogios? Nada. Cobranças? Muitas!

Esse período fez com que o francês adquirisse uma mentalidade vencedora que poucos atingem. O período de excessivas broncas e desapreço construiu uma atitude triunfante, alicerçada em firmes fundamentos erguidos com um mix de tristeza e esperança. Imagina ter performances deslumbrantes, números significativos produzidos contra os melhores jogadores de basquete do planeta e ouvir um singelo silêncio?

Não seria assim, evidente. Popovich tinha plena ciência do que estava fazendo e quando entendeu ser o momento ideal deu ao seu armador a recompensa que merecia. E os títulos acumulavam. Parker continuava se aprimorando, chegando a terminar uma temporada (2008-09) com 22 pontos de média por jogo. Mas chega um dia que o pensamento de renovação entra em cena, o mesmo que o trouxe para San Antonio. Antes do campeonato 2011-12 começar, os rumores circundavam o clube: trocar Tony Parker para efetivar como titular o jovem George Hill (hoje no Indiana Pacers). Três títulos da NBA, um MVP de Finais, o termo a idade chegou e soava mais forte.

A diretoria optou por mantê-lo no elenco, embora as lesões preocupassem e as substituições que sofria nos períodos decisivos. Resposta veio em sonoras performances que deu a ele a maior média de assistência por jogo em uma temporada: 7.7. Então Popovich compreendeu que um dos mais importantes amadores da história da NBA está sob seu comando. Elogios distribuídos com frequência, quem diria?!

Corresponder, então, era a missão. Parker estava na situação de mostrar em quadra os porquês de tanta confiança depositada em seu jogo, lhe dando o posto de líder da equipe – conforme consentimento de Tim Duncan e Manu Ginóbili. Ocasião que a pessoa sente o dever de ser o responsável pela qualidade do grupo e de ser consistente em suas atuações. Confiança que o fazia ser melhor a cada dia. Incentivo para marcar numa partida 37 pontos (Jogo 1 das finais da Conferência Oeste contra o Memphis Grizzlies) e em outra anotar 18 assistências (Jogo 3).

Os grandes discernem corretamente as situações que enfrentam e extraem delas o mais proveitoso. Os medíocres se satisfazem fácil, pensam pequeno e têm como prêmio irrelevantes coisas. Pior quando os de cabeça limitada acham que são os grandes; e querem rechear seu retrospecto de notórios feitos.

Ledo engano.


(GL)
Escrito por João da Paz

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