Yasiel Puig: a história de um cubano nos Estados Unidos


A liberdade americana pode ser questionada, mas é viva na terra do Tio Sam. Uma estátua em New York representa esse importante direito humano, simboliza uma qualidade que outros países também desfrutam. Mas para aqueles privados dela, arriscar a vida para ser livre é a única opção plausível.

O cubano Yasiel Puig, 22 anos, jogador do Los Angeles Dodgers, é um pelotero inato. Ficar num país congelado no tempo, com a cara preto&branco de 1960, estava longe de ser o objetivo de sua carreira. Assim escolheu expor o que há de mais valoroso para si, tendo por meta saborear o que não há em seu país: essa tal liberdade.

Cuba é reconhecida por produzir grandes esportistas e os jogadores de beisebol estão nesse balaio. Porém é um lugar rico em profissionais da mais alta qualidade. São advogados, médicos, professores... Muitos desses, ávidos para serem livres e seguir com suas respectivas profissões rumo ao bem estar, à segurança, ao sossego.

A Guarda Costeira dos Estados Unidos tem registrado os números da travessia nada prazerosa entre o atraso e a contemporaneidade, entre o fim e o começo, entre a morte e a sobrevivência. Desde 2000, cerca de 200 cubanos morreram tentando chegar em solo americano; nesse mesmo período mais de 10 mil cubanos foram capturados e mandados de volta para Cuba, com destino incerto. Quem é pego por fugir da nação socialista é fadado ao desaparecimento, seja o físico ou o abstrato.

Puig decidiu por em risco a sua integridade e de sua família – esses que sofrem se tiverem parentes no território inimigo. Ele arriscou pela primeira vez na forma “tradicional” que cubanos optam: pedir asilo quando a seleção nacional vai disputar um torneio internacional. Isso Puig fez em 2011 na cidade de Roterdã, Holanda. Cuba participava do World Baseball Classic, porém o pedido de asilo político foi negado.

O governo cubano puniu Puig por essa ação, o suspendendo da temporada de 2012 do campeonato nacional e banindo indefinidamente sua participação na seleção do país. A ordem era que ele não podia deixar Cuba. As autoridades locais estavam intimadas para impedi-lo de sair da ilha caribenha.

Não deu muito certo. Puig tentou outras três vezes chegar aos EUA. Só consegui na quarta tentativa quando optou por um caminho diferente via México. No ano passado o atleta embarcou numa super lancha e chegou à cidade de Cancún. Lá uma pessoa ajeitou as coisas para ele, conseguindo um visto como habitante mexicano. Os detalhes dessa operação são desconhecidos, até porque Puig mantém o silêncio pensando na preservação da sua família, alvo fácil de represálias em Cuba.

Muitas informações desencontradas circundam o visto concedido ao cubano. Algumas apontam para um envolvimento com tráfico de drogas – traficantes teriam facilitado os caminhos burocráticos e de transporte em troca de uma parte da grana que Puig receberia ao assinar com um clube da MLB. Outras mostram que pessoas ligadas ao tráfico humano estejam envolvidas; na Flórida o compatriota Miguel Angel Corbacho está preso cumprindo pena de sete anos e processa Puig e sua mãe por falso testemunho, que o levou ao cárcere. O processo diz que Puig é um “informante do governo cubano”.

Enfim...

Puig, com o visto mexicano, entrou nos Estados Unidos legalmente e ainda recebeu tratamento especial da imigração americana por ser refugiado do comunismo castrista. Aí, no mesmo ano, o Los Angeles Dodgers apareceu e assinou um contrato de US$ 42 milhões/por sete anos.

Por que os Dodgers apareceram assim do “nada”?

O lendário olheiro do clube, Mike Brito, com experiência de 35 anos e descobridor de Fernando Valenzuela, assistiu Puig jogar numa partida no Canadá. Fez todas as anotações necessárias e as guardou. Um irmão de Brito, que mora em Cuba, entrou em contato para avisar que o jogador tinha deixado o país e embarcado no México. Rapidamente Brito armou um plano para assinar com Puig, pedindo ajuda de outra força dos Dodgers na observação de talentos: Logan White, vice-presidente das categorias de base amadoras (revelou, entre outros, Matt Kemp e Clayton Kersahaw).

Ambos deram um pulinho para o México, ficaram de olho em Puig e mesmo sem atuar por um ano, fecharam acordo com o atleta. Era a oportunidade que todos os lados tanto queriam: um espaço na MLB (Puig) e um nome para tomar as manchetes do mundo e arrasar em campo (Dodgers).

A franquia cuida de Puig como de fato deve ser, como um patrimônio. Contratou uma pessoa para morar com ele e mostrar os atalhos para aproveitar melhor essa tal liberdade. Tim Bravo, amigo de faculdade de White, é Diretor de Assimilação Cultural dos Dodgers, porém recebeu a missão extra de cuidar de Puig e também ser seu professor de inglês.

O jovem cubano aos poucos está assimilando o direito de ser livre. Liberto de um regime limitador. pode notar os momentos magníficos que a vida nos entrega e soltar um sorriso com detalhes nem tão importantes. Ele nem sabia quais eram as cores dos Dodgers antes de assinar com o clube. E ficou extasiado ao ver que há várias cores e sabores de Gatorade...

Puig fala com confiança, com fé, com determinação. Traços de sua personalidade que o fez encarar o desconhecido e buscar o que ambicionava. A carreira na MLB está só começando, mas um belo filme hollywoodiano, diretamente de Los Angeles, está sendo “rodado” sobre a vida de Puig.

Para nós, observadores latinos, está mais para uma novela. Podemos assistir a cada dia um capítulo diferente se desenrolar.


(GL)
Escrito por João da Paz

Um comentário:

Igor Cometti disse...

"O jovem cubano aos poucos está assimilando o direito de ser livre. Liberto de um regime limitador. pode notar os momentos magníficos que a vida nos entrega e soltar um sorriso com detalhes nem tão importantes. Ele nem sabia quais eram as cores dos Dodgers antes de assinar com o clube. E ficou extasiado ao ver que há várias cores e sabores de Gatorade..."

Definição perfeita

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