As cortinas se fecham para Allen Iverson – e uma letra de rap é o despojo


Um ícone da NBA está prestes a encerrar sua carreira definitivamente. De acordo com reportagem da Revista SLAM, especializada em basquete, Allen Iverson vai anunciar sua aposentadoria do basquete, não tem mais volta. Após deixar a NBA em 2010, arriscou uns dribles na Turquia defendendo o Beşiktaş, mas os 38 anos de idade bateram na porta e pediram um tempo.

O que fica? O que Iverson deixa? Qual seu legado?

Uma era chega ao fim. Sim, é perfeitamente possível rotular a passagem de Iverson pela NBA como uma era. Marcou época para o bem e/ou para o mal, sendo figura de destaque dentro e fora de quadra. Coletou fãs nos quatro cantos do mundo e no Brasil tem uma base de admiradores sólida, que em grande parte surgiu graças ao estilo da pessoa que eternizou a camisa 3 do Philadelphia 76ers, com mágicos dribles e arremessos.

O que aproximou Iverson dos torcedores foram fatores de similaridades. Estava ali em quadra alguém que se vestia como um cara comum. Porém era um cara comum que não se intimidava com os adversários grandalhões. Os derrotava com um arremesso letal ou com dribles desconcertantes.

A Era Allen Iverson começou em 1996 e terminou 14 anos depois. Teve início na cidade de Filadélfia, num jogo contra o Milwaukee Bucks no primeiro dia de novembro daquele ano. 30 pontos na cabeça! A luz apagou em Chicago contra os Bulls em 20 de Fevereiro de 2010; 13 míseros pontos. Durante todo esse tempo, somente em contratos trabalhistas, ele acumulou a bagatela de (+)US$ 154 milhões. Ao menos era para ele ter uma boa fatia desse montante em caixa, porém na temporada que saiu da NBA um banco o cobrou por uma dívida de uma corrente que ele não pagou – e nem tinha condições para quitar a conta.

Péra! Mas o quê um senhor, então com 36 anos, estava fazendo com um colar de rapper no pescoço?

Então, se tem algo a creditar na conta de Iverson é sua personalidade firme e original. Afinal, não se moldava a padrões, teve que fazê-lo devido exigências patronais. Contudo Iverson não escondia sua influência cultural, muito menos pensamentos controversos.

Quando o jogador caminhava rumo ao auge, a NBA atravessava a depressão pós-Jordan e buscava uma nova direção. Confusa, não sabia se abraçava a cultura hip-hop como um todo e colocava Iverson como garoto propaganda. Não sabia se rejeitava a cultura hip-hop parcialmente e colocava Iverson como garoto propaganda.

Optou pela segunda alternativa.

Ficaram as músicas nos falantes dos ginásios e os shorts nos uniformes dos clubes. Excluídas as roupas de rua do movimento hip-hop. Como visto aqui no grandes ligas no ano passado, essa foi a melhor ação do David Stern, comissário da associação: fazer com que os jogadores da NBA se vistam como adultos.

E Iverson ficou como o bom exemplo mau. Mesmo assim seu impacto fora de quadra continuava forte, um símbolo.

Nas quadras os recordes foram se acumulando. No primeiro campeonato veio o troféu de Novato do Ano. Daí acrescente 11 nomeações para o Jogo das Estrelas, quatro títulos de cestinha, um MVP... Em temporada regular, sua média de pontos foi de 26,7; nos playoffs de 29,7. Uma análise nem tão profunda em seu currículo leva ao óbvio: daqui a dois anos entrará no Hall da Fama. Será mais um motivo pelo qual não é possível dissociar o nome Allen Iverson do basquete.

No meio tempo os Sixers vão aposentar a camisa 3. Ele aparecerá na cidade, dará um discurso impactante. Só que não haverá comparação com o que se espera que aconteça na entrada do Hall da Fama. Ali sim um momento de reflexão, de olhar para trás e ver que por mais que problemas apareceram, eles ficaram para trás. Instante para admirar a cortina fechada e apreciar a glória que chegou.

Traços da vida árdua de Iverson estão registrados no álbum de hip-hop (“40 Bars”) que ele gravou em 2000, mas não chegou às lojas por ter um conteúdo altamente explícito. Porém ele contou histórias suas, do seu ponto de vista.

De Memphis, uma das cidades que o acolheu na jornada da NBA, saiu o rap que fala sobre o problemático atleta, modelo de inspiração para muitos, modelo de desgosto para outros. O rapper Don Trip gravou um som chamado “Allen Iverson”, por ver nele um espelho. A letra é bem estruturada e as vidas de Don Trip e Iverson se encontram nos versos, com intros de declarações emocionantes do jogador, extraídas de entrevistas.

Uma dessas rimas diz:

A mídia te provoca, são como urubus
E você está no pedestal, é preciso manter o foco
Qualquer movimento que você faz representa sua cultura
Você quer ser normal, mas essa vida está morta



“Sou humano”, assim Iverson respondeu a pergunta “O que você é?”.


(GL)
Escrito por João da Paz

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