A cena acima é comum, muito comum.
O desenho do ladrão de banco usando um boné do New York Yankees é fácil de confundir com tantos outros retratos falados na cidade de New York, pois cada vez mais cresce o número de criminosos que cometem delitos com o acessório de um dos mais populares times dos Estados Unidos.
Um dossiê feito pela polícia nova-iorquina (NYPD) analisou notícias de jornais, vídeos de segurança e arquivos de delegacias – de 2000 até 2010. Chegou a conclusão que mais de 100 crimes foram cometidos por pessoas com o boné dos Yankees na cabeça. Parte dos bandidos não tem uma paixão fanática pelo clube, mas o status de usar o “NY” e o estilo da marca, popularizada pela cultura hip-hop, faz o boné se tornar super popular; principalmente entre as gangues.
Nem todos que usam o boné com o “NY” é criminoso, porém há muitos gangsters que incorporam a peça como parte do uniforme de ação. Isto não vem de hoje e já faz parte da cultura, tanto que a New Era, empresa que detém os direitos de fabricar (com exclusividade) os bonés dos clubes da MLB, extrapolou ao associar de forma direta o boné dos Yankees com três grandes gangues dos EUA, numa jogada de marketing que eles classificaram como “grande erro”, deixando um cheiro de falsa ingenuidade no ar.
Em 2007 a New Era colocou à venda três bonés com o “NY” na frente, mas usando cores diferentes e que de nenhuma maneira lembravam o time de beisebol. Para a empresa eles foram fabricados como designers aleatórios, sem relação às gangues. Contudo veja as fotos:
O da direita lembra a gangue Bloods, o do centro a Latin Kings e o da esquerda a Crips. Tá claro que foi feito para ser usado por membros ou simpatizantes dos respectivos grupos. A indignação em New York – e em outras partes do país – foi grande em protesto contra a New Era. Não demorou muito para que os perigosos objetos fossem retirados das lojas. Bonés iguais a esses com uma pessoa errada poderia causar estragos.
Não é exagero. Exemplo: se alguém está com um boné azul e entra num bairro ou rua dominada pela Bloods, algo de ruim tende a acontecer; discussões, brigas, espancamentos... Há aqueles que não sabem a correlação de um logo ou cor de boné com determinada gangue, muito menos se o local que ele está andando “é” de determinada gangue. Aqui sim existe ingenuidade – e não numa empresa que trabalha com cultura de rua e desenha detalhados bonés com um nítido objetivo (está com MLB desde a década de 30).
Quem gosta do estilo de roupa no qual o boné faz parte do conjunto, sabe que a marca “NY” é estilosa. A maioria usa sem ter simpatia pelo clube Yankees, muito menos sabem a origem do “NY” e a quem pertence. No Brasil se percebe isto muito bem. Quantos passam nas ruas utilizando o boné com o “NY” nas mais diversas cores e só estão com ele porque é da hora? Evidente que usar um boné com “NY” (ou “LA” do Los Angeles Dodgers) não faz a pessoa uma deliquente, até porque cada um tem uma motivação particular para usá-lo.
Um caso simbólico aconteceu com Taj Simmons, colecionador e dono de mais de 60 bonés da MLB. uma enorme variedade de cores e times. Mora no Sul da Califórnia, berço de fortes e conhecidas gangues, mas nunca teve conhecimento desta associação boné x gangue até visitar, a trabalho, uma escola perto da sua casa. Na ocasião ele usou um boné do Seattle Mariners por achar que combinava bem com sua camisa. Ao chegar no colégio Taj notou que garotos o cumprimentavam fazendo gestos com as mãos. Saiu de lá sem entender.
Começou a busca para descobrir por qual motivo ele recebeu tantos acenos. Achou a resposta ao aprender que o “S” do boné que ele estava usando é associado à gangue Sureños, com marcante presença no Sul da Califórnia – daí vem o nome.
Na Califórnia ocorrem coisas esquisitas. No território dos atuais campeões Giants (San Francisco), há uma acirrada rivalidade com os Dodgers (vem do tempo quando as franquias estavam em New York). Assim, nada de azul por lá – a não ser que você faça parte de uma gangue que se identifica com a marca do clube de Los Angeles. O boné dos Dodgers faz parte da vestimenta da Crips pela cor e da Latin Aspects pelo logo (LA).
Essa conjuntura resulta num estranho acontecimento. O Cincinnati Reds é um time que em campo até mostra bons resultados (chegou aos playoffs no ano passado e tem cinco títulos de World Series), porém não usufrui de tanta popularidade; a não ser pelo boné. A peça vermelha com um “C” no meio é um dos produtos que mais vende nas lojas esportivas dos EUA por um único motivo: a ligação com a gangue Bloods pela cor vermelha. Mesmo com o “C” da rival Crips, membros da Bloods tornaram o boné dos Reds popular entre eles e em todo EUA onde há um set da gangue, lá está a marca “C” – nada relacionado com a torcida do clube.
Bloods e Crips fizeram os bonés dos Reds e Dodgers, respectivamente, se tornarem sucesso de vendas por motivos nem tão nobres. Estas não são as únicas gangues que se identificam com bonés de clubes da MLB, da mesma forma que estes não são os únicos clubes que fazem parte do “uniforme” delas. Bloods, por exemplo, usa o boné do Kansas City Royals (o branco) numa afronta aos Crips; para eles a sigla “KC” significa “Kill Crips” (tr. Morte aos Crips) – existe um da cor vermelha.
Eis outros exemplos:
- A letra “M” do boné do Minnesota Twins é usada para identificar os membros da Maniac Latin Disciples, gangue de Chicago fundada em 1966, parte da aliança Folk Nation – os Twins são rivais de um dos times da cidade, o Chicago White Sox.
- A Folk Nation é uma rede de gangues, criada por Larry Hoover, que une grupos da região Sul e do Meio-Oeste americano. O símbolo deles é uma estrela e o boné do Houston Astros é usado pelos membros.
- Larry Hoover foi o fundador da Gangster Disciples em Chicago. As cores do grupo são azul e preto e eles utilizam o boné do Detroit Tigers pelas cores e pelo “D” – os Tigers também são rivais dos White Sox.
O desenho do ladrão de banco usando um boné do New York Yankees é fácil de confundir com tantos outros retratos falados na cidade de New York, pois cada vez mais cresce o número de criminosos que cometem delitos com o acessório de um dos mais populares times dos Estados Unidos.
Um dossiê feito pela polícia nova-iorquina (NYPD) analisou notícias de jornais, vídeos de segurança e arquivos de delegacias – de 2000 até 2010. Chegou a conclusão que mais de 100 crimes foram cometidos por pessoas com o boné dos Yankees na cabeça. Parte dos bandidos não tem uma paixão fanática pelo clube, mas o status de usar o “NY” e o estilo da marca, popularizada pela cultura hip-hop, faz o boné se tornar super popular; principalmente entre as gangues.
Nem todos que usam o boné com o “NY” é criminoso, porém há muitos gangsters que incorporam a peça como parte do uniforme de ação. Isto não vem de hoje e já faz parte da cultura, tanto que a New Era, empresa que detém os direitos de fabricar (com exclusividade) os bonés dos clubes da MLB, extrapolou ao associar de forma direta o boné dos Yankees com três grandes gangues dos EUA, numa jogada de marketing que eles classificaram como “grande erro”, deixando um cheiro de falsa ingenuidade no ar.
Em 2007 a New Era colocou à venda três bonés com o “NY” na frente, mas usando cores diferentes e que de nenhuma maneira lembravam o time de beisebol. Para a empresa eles foram fabricados como designers aleatórios, sem relação às gangues. Contudo veja as fotos:
O da direita lembra a gangue Bloods, o do centro a Latin Kings e o da esquerda a Crips. Tá claro que foi feito para ser usado por membros ou simpatizantes dos respectivos grupos. A indignação em New York – e em outras partes do país – foi grande em protesto contra a New Era. Não demorou muito para que os perigosos objetos fossem retirados das lojas. Bonés iguais a esses com uma pessoa errada poderia causar estragos.
Não é exagero. Exemplo: se alguém está com um boné azul e entra num bairro ou rua dominada pela Bloods, algo de ruim tende a acontecer; discussões, brigas, espancamentos... Há aqueles que não sabem a correlação de um logo ou cor de boné com determinada gangue, muito menos se o local que ele está andando “é” de determinada gangue. Aqui sim existe ingenuidade – e não numa empresa que trabalha com cultura de rua e desenha detalhados bonés com um nítido objetivo (está com MLB desde a década de 30).
Quem gosta do estilo de roupa no qual o boné faz parte do conjunto, sabe que a marca “NY” é estilosa. A maioria usa sem ter simpatia pelo clube Yankees, muito menos sabem a origem do “NY” e a quem pertence. No Brasil se percebe isto muito bem. Quantos passam nas ruas utilizando o boné com o “NY” nas mais diversas cores e só estão com ele porque é da hora? Evidente que usar um boné com “NY” (ou “LA” do Los Angeles Dodgers) não faz a pessoa uma deliquente, até porque cada um tem uma motivação particular para usá-lo.
Um caso simbólico aconteceu com Taj Simmons, colecionador e dono de mais de 60 bonés da MLB. uma enorme variedade de cores e times. Mora no Sul da Califórnia, berço de fortes e conhecidas gangues, mas nunca teve conhecimento desta associação boné x gangue até visitar, a trabalho, uma escola perto da sua casa. Na ocasião ele usou um boné do Seattle Mariners por achar que combinava bem com sua camisa. Ao chegar no colégio Taj notou que garotos o cumprimentavam fazendo gestos com as mãos. Saiu de lá sem entender.
Começou a busca para descobrir por qual motivo ele recebeu tantos acenos. Achou a resposta ao aprender que o “S” do boné que ele estava usando é associado à gangue Sureños, com marcante presença no Sul da Califórnia – daí vem o nome.
Na Califórnia ocorrem coisas esquisitas. No território dos atuais campeões Giants (San Francisco), há uma acirrada rivalidade com os Dodgers (vem do tempo quando as franquias estavam em New York). Assim, nada de azul por lá – a não ser que você faça parte de uma gangue que se identifica com a marca do clube de Los Angeles. O boné dos Dodgers faz parte da vestimenta da Crips pela cor e da Latin Aspects pelo logo (LA).
Essa conjuntura resulta num estranho acontecimento. O Cincinnati Reds é um time que em campo até mostra bons resultados (chegou aos playoffs no ano passado e tem cinco títulos de World Series), porém não usufrui de tanta popularidade; a não ser pelo boné. A peça vermelha com um “C” no meio é um dos produtos que mais vende nas lojas esportivas dos EUA por um único motivo: a ligação com a gangue Bloods pela cor vermelha. Mesmo com o “C” da rival Crips, membros da Bloods tornaram o boné dos Reds popular entre eles e em todo EUA onde há um set da gangue, lá está a marca “C” – nada relacionado com a torcida do clube.
Bloods e Crips fizeram os bonés dos Reds e Dodgers, respectivamente, se tornarem sucesso de vendas por motivos nem tão nobres. Estas não são as únicas gangues que se identificam com bonés de clubes da MLB, da mesma forma que estes não são os únicos clubes que fazem parte do “uniforme” delas. Bloods, por exemplo, usa o boné do Kansas City Royals (o branco) numa afronta aos Crips; para eles a sigla “KC” significa “Kill Crips” (tr. Morte aos Crips) – existe um da cor vermelha.
Eis outros exemplos:
- A letra “M” do boné do Minnesota Twins é usada para identificar os membros da Maniac Latin Disciples, gangue de Chicago fundada em 1966, parte da aliança Folk Nation – os Twins são rivais de um dos times da cidade, o Chicago White Sox.
- A Folk Nation é uma rede de gangues, criada por Larry Hoover, que une grupos da região Sul e do Meio-Oeste americano. O símbolo deles é uma estrela e o boné do Houston Astros é usado pelos membros.
- Larry Hoover foi o fundador da Gangster Disciples em Chicago. As cores do grupo são azul e preto e eles utilizam o boné do Detroit Tigers pelas cores e pelo “D” – os Tigers também são rivais dos White Sox.
(GL)
Escrito por João da Paz
Escrito por João da Paz
© 1 Departamento Policial da cidade de New York (NYPD)
© 2 Reprodução
Um comentário:
Muito boa a reportagem.valeu!
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