Adaptação

Desde que chegou a New York, é comum ver em quadra um Carmelo Anthony isolado e pensativo. Um momento extraído para refletir sobre seu novo time e o baixo rendimento que os Knicks apresentam com a mais nova contratação. O saldo após um mês da troca são 7v e 9d, aproveitamento abaixo dos 50% que fez a equipe cair uma posição na classificação da Conferência Leste.

Não era para ser assim. A aquisição de Anthony prometia elevar o jogo dos Knicks e colocá-los como um concorrente forte nos playoffs. Tudo se convergia para uma união ideal, com a volta do jogador a New York, cidade onde nasceu e estado onde cursou a universidade. O glamour da metrópole e o tom agressivo do lugar não intimidariam o jogador, ou será que sim? A pressão de colocar os Knicks em um patamar de relevância afetou o ajuste dele ao novo local de trabalho e ao novo lar?

Nem tanto.

Mesmo na pacata Denver ele desfrutava de uma vida cheia de devaneios, um alto padrão singular. Por mais que estivesse longe do centro nervoso da feroz imprensa, Anthony constantemente lidava com manchetes e reportagens que abordavam seu comportamento e atitudes. Assim seu cotidiano era pauta da mídia, interessada nas suas ações para criar histórias e expô-las ao público com o intuito de vender uma imagem estereotipada do cara irresponsável que nunca seria um mega astro na NBA.

Em alguns casos Melo se pôs em situações críticas, em outras não. Das más e boas escolhas surge o amadurecimento, ajuste necessário a um atleta que goza de um status ímpar e precisa lidar bem com seu próprio jeito de ser. Anthony, apesar de muitas opções equivocadas, evoluiu na matéria “Preciso Ser Adulto”. Um gesto simples simboliza tal maturidade: o corte das tranças em seu cabelo, parte do visual desde criança. Isso ocorreu por um incômodo sentido na pele, pois ele notava que as pessoas ao seu redor não lhe levavam a sério, não o respeitavam pela sua pessoa e não se preocupavam em olhar para o interior do homem; a fachada externa de moleque bastava para os julgamentos.


Então aparece a opção de se adaptar, difícil para um cara que cresceu em um ambiente denso onde é necessário ser duro e defensor de princípios para não ser entregue ao “sistema”. Porém Melo usou a inteligência e soube agir com sabedoria, vencendo o ego e partindo rumo ao mundo dos responsáveis.

Esta dupla imagem se reflete na competição esportiva mais importante do mundo: as Olimpíadas. Em 2004 (Atenas) a seleção americana ficou com a medalha de bronze e Anthony tornou-se o símbolo do fracasso. Em 2008 (Pequim) a seleção americana ficou com a medalha de ouro e Anthony tornou-se o símbolo da redenção. Na China, entre Kobe Bryant, LeBron James, Dwyane Wade, Chris Paul e outros, Anthony foi o líder da equipe recheada de super estrelas.

Logo, depois de tantos obstáculos transpassados, a missão de levar o New York Knicks rumo ao mais alto nível competitivo da NBA está entregue em boas mãos. Agora, porque após 16 jogos as coisas não vão tão bem? Será que Anthony não vai se acostumar com o sistema ofensivo do treinador Mike D´Antoni? (que fez parte da comissão técnica dos EUA em Pequim).

Fato é que Melo diariamente precisa enfrentar a insaciável mídia nova-iorquina. Não ter uma boa relação com ela pode causar um desastre. Na última sexta (18), após a derrota contra o Detroit Pistons, noite que o camisa 7 converteu apenas 2 arremessos de 12 tentados – sua pior partida com os Knicks –, Anthony saiu do vestiário sem falar com os jornalistas, ou melhor, “sem dá uma explicação aos torcedores sobre sua péssima partida”. O acúmulo de derrotas contra times fracos e um resultado desfavorável contra o Milwaukee Bucks no jogo seguinte (dia 20), fez com que os analistas esportivos da cidade duvidassem do potencial do jogador em ser o líder do time e frases como “Ele [Anthony] é parecido com [Stephon] Marbury em termos de atitude e pobre mentalidade”; “[Latrell] Sprewell era melhor”; e “Tái uma versão ampliada de [Allen] Iverson” apareceram nos noticiários sobre o clube.

Quando Anthony decide falar, a sinceridade é ouvida nas suas declarações. A mais recente controvérsia iniciou após ele dizer que o time ainda não está totalmente entrosado e que vai demorar a chegar ao ponto ideal. Somado com o depoimento de Amare Stoudemire, ala-pivô, - “Tem gente aqui que ainda não assimilou como funciona o nosso ataque” – numa clara indireta a Anthony, a imprensa se une numa exagerada cobrança em cima de Melo. Ele tem sua parcela de culpa, mas não é o único e nem deve ser o solitário alvo de críticas.

Neste caso, os torcedores não estão na onda da imprensa. Muitos se posicionam contra o treinador, argumentando (em linhas gerais) que o baixo rendimento do time é culpa do comandante.

Os Knicks passam por um bom problema a ser resolvido, visto que antes de adquirir Anthony o time estava numa ótima posição, a qual reavivou o basquete em New York. A chegada do nativo, um dos grandes nomes da associação, indicava uma evolução drástica no aproveitamento do clube. As derrotas são mais do que vitórias desde a troca e o torcedor, embora esteja do lado de Anthony, não vai aturar um pífio desempenho em quadra.


Melo quer um pouco mais de tempo para se adaptar melhor ao desenho tático de D´Antoni; e não o contrário. O treinador aposta em um modo altamente entregue ao ataque e o jogador é um puro finalizador. Entretanto, a velocidade imposta pelo treinador não se encaixa no estilo mais estático do jogador.

Para o bem de ambas as partes, alguém tem que ceder – assim a harmonia irá reinar.

(GL)
Escrito por João da Paz


© 1 Jared Wickerham / Getty Images
© 2 John Angelillo / UPI

Um comentário:

Vitor Manoel disse...

Muito bom o Post sobre o Melo. Deve-se ter paciencia com o Melo e Knicks, ate pq ele jogava em esquema ofensivo diferente do que o Knicks o New York mudou muito seu elenco e precisa de se entrosar novamente, num periodo no qual as outras equipes estao voando pro offs.Sobre quem vai ceder, creio que o Melo cede agora, mas temporada que vem o Mike D´Antoni arrume um esquema onde o Melo rende mais.Em relação ao Melo esta pensativo e isolado ele deve tah pensando no rojão e na responsa que ele tem agora

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