Lockout na NFL e na NBA é bom para curar a miopia dos demasiados


Admirar um esporte e apreciar a habilidade do atleta é uma arte. Torcer não é suficiente, é necessário desfrutar o trabalho visto no campo ou em quadra com observação mais ampla. Alguns conseguem atingir a dose certa, outros chegam ao extremo e agem como radicais, elevando seu jogador favorito a um patamar mais elevado em sua vida acima de coisas que realmente deveriam ser importantes.

O fanático defende incondicionalmente aquela personalidade esportiva que tanto gosta. Busca tomar posições defensivas para justificar certas atitudes. Mesmo a paralisação na NFL e na NBA ter sido iniciada pelos donos de franquia (lockout), a classe sindical dos atletas em ambos os casos está tomando uma atitude irrefutável no que diz respeito a redução salarial.

Percebe-se então uma correlação com muitos trabalhadores, seja qual for o setor de atuação, que não aceitam receber menos enquanto, numa hipótese, os donos estão lucrando ou buscando lucro. A ligeira diferença aparece quando as quantias pelas quais lutam surgem.

Esta guerra de interesses ganhou uma conotação popular de bilionários (donos) contra (milionários) jogadores. Caras com Ferrari, Lamborghini, Porsche nas suas garagens em mansões caríssimas estão disputando o direito de aumentar seus ganhos. Na NBA os jogadores têm uma média salarial de US$ 4.9 milhões e está entre as ligas no mundo todo que mais bem pagam. Possui um sindicato dos atletas presidido por Billy Hunter que disse o seguinte uma semana antes do lockout entrar em vigor: “Verdade, talvez alguns dos nossos jogadores ganham poucos dólares a mais que uma pessoa normal, mas eles passam pelos mesmos problemas financeiros”.

Logo é inevitável não lembrar a paralisação que ocorreu na NBA em 1999. Na ocasião o presidente do sindicato, Patrick Ewing, disse: “Jogadores da NBA recebem um alto salário, mas gastam muito também”. E para piorar a situação na época, Kenny Anderson (jogador do Boston Celtics) comentou a possível tragédia que aconteceria com ele, o levando a ter que vender alguns dos seus oito carros. Latrell Sprewell também não ajudou muito o lado dos jogadores ao falar que sua família passava por dificuldades delicadas apesar do seu contrato de US$ 21 milhões.

A disputa aqui é de gente grande, deixem eles brigarem. Claro, o fanático – se participa ativamente – tem parte no lucro dos donos e arrecadação dos jogadores ao comprar ingressos, camisas e outros artigos licenciados, mas no final das contas quem decide são eles, a opinião e o interesse dos fanáticos não são levados em consideração.

As grandes estrelas podem ficar 12 meses sem salário, o dinheiro vindo de propaganda sustenta o estilo de vida deles. Na última temporada, eis quanto os principais jogadores da NBA ganharam em salários e propaganda (dados da Sports Illustraded)

- LeBron James: US$ 14.5 milhões (salário); US$ 30 milhões (propaganda)
- Kobe Bryant: US$ 24.8 milhões (salário); US$ 10 milhões (propaganda)
- Kevin Garnett: US$ 18.8 milhões (salário); US$ 14 milhões (propaganda)
- Dwight Howard: US$ 16.6 milhões (salário); US$ 12 milhões (propaganda)


Na NBA houve um alerta para que os jogadores cortassem mais as despesas extras porque o lockout poderia ocorrer, porém esta voz ecoou mais forte na NFL. Na rica liga de football a média salarial dos atletas não é tão alta e gira em torno de US$ 1.9 milhões. Não é tão grande o número de jogadores que recebem altos salários, mas é enorme a quantidade dos que encerram a carreira e poucos anos depois enfrentam dificuldades financeiras por ter gastado o dinheiro ganho em coisas supérfluas e passageiras.

Após dois anos de aposentadoria, 78% dos jogadores da NFL enfrentam a falência ou um grave momento de dívidas. Fruto de dinheiro desperdiçado, falta de investimento em uma outra atividade rentável ou separação. A taxa percentual de divórcio dos jogadores da NFL é 30% maior que a média entre os casais americanos.

Todo jogador, não importa o quanto é relevante, tem o direito de gastar seu dinheiro como melhor entender. Quem for esperto economiza e vive um cotidiano regado de coisas agradáveis e bem sossegado. Quem quiser agir de forma esdrúxula pode ir em frente e se acabar na enriquecida ilusão que tem um fim certo.

Lamar Odom é casado com uma das Kardashians, assim não deve enfrentar uma crise financeira tão cedo. Contudo no reality show do canal E! que tem com sua esposa Khloe, é possível ver o dinheiro do jogador dos Lakers ir ralo abaixo sustentando o luxo de “amigos”. Ressaltando que a taxa dos jogadores da NBA que após dois anos de aposentadoria estão “quebrados” é de 60%.

Pode passar um mês, um ano, mas a NFL e a NBA vão voltar a sua funcionalidade normal e os fanáticos voltarão a torcer a favor do seu atleta preferido e contra aquele que ferozmente odeia. A paixão exagerada faz cegar a visão que não produz uma análise clara e sim uma miragem supostamente ideal. Tanto o jogador defendido pelo fanático quanto aquele que este condena vão viver um cotidiano muito parecido. Ao final de um confronto direto, não importa o resultado da partida, os dois atletas em questão vão para casa dirigindo carro importado, vestindo a mais cara roupa, com o mais caro relógio no pulso...

Em sua respostas aos críticos, LeBron foi muito bem na entrevista coletiva após ser derrotado pelo Dallas Mavericks nas Finais da NBA 2011. Disse o que muitos pensam e vivem, mas que por determinados motivos não expressam publicamente sua opinião:

Eles [críticos] vão acordar amanhã e vão ter a mesma vida que tiveram hoje, com os mesmos problemas que tiveram hoje. Vou continuar vivendo do jeito que eu quero e continuar fazendo as coisas que eu quero e ser feliz. Eles podem ter alguns dias ou alguns meses de felicidade porque eu e o Miami Heat não atingimos nosso objetivo. Mas eles vão ter que voltar para o mundo real de qualquer jeito

Leram e enxergaram, mas não entenderam.

É cada um no seu quadrado.



(GL)
Escrito por João da Paz

2 comentários:

Gustavo disse...

Gostei da parte final do texto mas o começo do texto me passa uma impressão de que é contrário aos jogadores.
Lógico que comparada com a minha vida, a vida dos jogadores é excelentes, altos salários, pararicação, mulheres e mais mulheres, carrões, etc.
Todavia, a briga dos jogadores não é comigo, e sim com os donos de equipe, que são muito mais ricos, muito mais, que os jogadores.
Isso se aplica principalmente à NFL, que como agravante tem o fato de muitos jogadores ficarem com sequelas pela vida, enquanto os donos de equipe não.
Tá, as pessoas podem dizer que os jogadores escolheram esta carreira. Todavia, não é menos verdade que os donos também escolheram esta "carreira", sendo que eles também possuem altos salários, mulheres e mais mulheres, carrões, etc. Talvez não tanta paparicação, mas também não tem sequelas pela vida, sendo que SÃO ELES (DONOS) QUE ESTÃO EM GREVE.
Por isto eu apóio os jogadores.

Anônimo disse...

mais um brasileirinho esse gustavo. sempre torce por mais pobre. mais um adepto do coitadismo... pensa antes de falar!!
o mané, os donos das franquias estão tendo prejuízo. vc quer q eles tirem dh e nao paguem impostos, como fazem nossos times de futebol aki??? se o dono nao tem lucro, alguma coisa tem q mudar!

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