Sorte: Encontro da Oportunidade com o Talento

Rex Ryan e Mark Sanchez

Como fugir de simplórias conclusões? Será que só é possível usar definições medíocres para definir o sucesso de uma pessoa? Dizer que alguém é sortudo por atingir um patamar acima das expectativas não é cruel? O que o acaso e a mera coincidência tem a ver com a competência daquele que chegou ao topo?

Apesar disto tudo, não tem como fugir dos rótulos pré-estabelecidos.

Analisando os finalistas das finais de conferências da NFL, logo se percebe um “intruso” entre três potências, um time que “não era pra estar aqui”. O New York Jets recebeu o tag sortudo pela improvável sequência que o levou aos playoffs. Porém, nos jogos da pós-temporada, a equipe mostrou que seu valor vai muito mais além do que uma obra do destino.

Ao perder o jogo da semana 15 para o Atlanta Falcons (7 a 10), Rex Ryan (treinador) disse em entrevista coletiva que seu time estava fora da briga para os playoffs e que não havia mais chances. Foi um sincero desabafo de um cara que não mede as palavras e que, desta forma, ganha um apoio e confiança incondicional dos membros do elenco. O próximo jogo seria contra os Colts – então invicto – em Indianapolis.

Os jogadores dos Jets pegaram a declaração do seu chefe como provocação, encarando o jogo contra os Colts como uma final. Havia um debate sobre se o Indianapolis deveria poupar ou não os titulares, pois o time já tinha conseguido a classificação antecipada aos playoffs. Jim Caldwell, treinador dos Colts, decidiu substituir seus principais atletas faltando 5 minutos para terminar o terceiro período. Os Jets estavam atrás no placar (10 a 15) e, depois desta mudança, conseguiu virar o jogo e sair com a vitória.

Era tudo que o time de NY queria. O que eles fizeram foi aproveitar a oportunidade de jogar o final da partida contra os reservas dos Colts e buscar o resultado positivo. O mesmo aconteceu contra o Cincinnati Bengals na semana seguinte, time que também poupou os titulares (já tinha assegurado o título da divisão Norte da Conferência Americana). Os Jets precisavam da vitória para ir aos playoffs e eles asseguraram a classificação.

Mark Sanchez

Poderia ser diferente se tanto os Colts quanto os Bengals tivessem jogado com os titulares ao longo de toda a partida? Sim. Mas, como dizem os pensadores modernistas da crônica esportiva, o “se” não entra em campo. O fato foi que a oportunidade surgiu para os Jets e ela não foi desperdiçada.

Não têm como fugir da realidade que o NY venceu ambos os jogos, entretanto os descréditos destes resultados eram expostos constantemente por aqueles que diziam que os Jets foram favorecidos. De novo: Por que entregar ao acaso e a mera coincidência a competência e o trabalho de um grupo?

Tudo o que é necessário para vencer jogos de pós-temporada na NFL a equipe do Rex Ryan tem: uma defesa forte (a número 1 de toda a liga na temporada regular) e um jogo corrido dominante (o número 1 de toda a liga na temporada regular). Dados que o destino não escreveu nas estatísticas oficiais, e sim o talento dos jogadores demonstrados em campo semana após semana.

A vinda de Ryan deixava como certo que os Jets teriam uma defesa agressiva e intimidadora; enquanto coordenador defensivo do Baltimore Ravens, assim era a sua filosofia. Todos abraçaram os métodos do treinador e o resultado aparecia em toda a rodada. A habilidade individual dos onze titulares (com destaque para Darrelle Revis – CB – e Bart Scott – LB) fez com que o jogo coletivo se tornasse o ponto forte da unidade, que transforma sacks em fumbles, passes incompletos em interceptações, interceptações em touchdowns...

No ataque, o QB novato Mark Sanchez vem entendendo a sua função, ou seja, ser o mais objetivo possível, sem querer inventar muito. Nos últimos quatro jogos da equipe (4 vitórias) ele só teve um passe interceptado. Valeu o esforço feito no draft do ano passado para adquiri-lo, trocando uma escolha de primeira e segunda rodada - e mais três jogadores com o Cleveland Browns -, pela quinta posição para ficar com Sanchez. Era exatamente o jogador que Rex Ryan queria. Outra oportunidade (ou será que foi sorte?) de pegar um talentoso jogador apareceu no segundo dia do draft.


Só que agora a preferência era do diretor de football (GM) da franquia, Mike Tannenbaum. Nas analises pré-draft, ele colocou o RB Shonn Greene (Universidade de Iowa) como o 19º melhor jogador disponível. Porém a segunda rodada de escolhas já tinha passado e Greene (camisa 23, foto acima) ainda estava disponível. Foi quando os conselheiros do clube incentivaram o diretor a fazer outra loucura, subir no draft e pegar o RB. Então a franquia trocou as escolhas da terceira, quarta e sétima rodada com o Detroit Lions pela 65º posição (primeira escolha da terceira rodada). Aí os Jets selecionaram Shonn Greene e, depois de 18 jogos com os novatos sendo decisivos, se entende que a ousadia foi válida em busca dos talentosos jogadores – os Jets foi o time que menos jogadores selecionou no draft 2009 da NFL (3).

Greene, por exemplo, foi fundamental nas vitórias contra os Bengals e San Diego Charges nestes playoffs. Usando sua habilidade de correr por dentro da defesa e conseguir mais jardas depois de ser tocado, ele anotou 135 jardas contra CIN e 128 contra os Charges, sendo o primeiro novato em toda a história da liga que correu mais de 125 jardas em cada um dos dois primeiros jogos da pós-temporada; marcou um TD em cada um deles também. Um dado a favor de Greene impressiona: NY venceu todas as partidas (7) que ele correu mais de dez vezes.

Por jogar em casa e ter o melhor time, os Colts são favoritos – as bolsas de apostas de Las Vegas dão uma vitória de sete pontos para IND. Independente do resultado da decisão da Conferência Americana, ambas equipes merecem estar nesta final, pois fizeram por onde para chegar neste ponto. Provavelmente os Colts destruírão os Jets, já que contra um adversário de características parecidas (Ravens), IND saiu vencedor nas semifinais da Conferência (20 a 3).

Agora, nada deve diminuir ou desvalorizar o belo trabalho que Rex Ryan & Co. fizeram nesta temporada com o New York Jets. Com certeza a sorte não foi um agente auxiliar (muito menos o principal) que colocou a equipe nessa posição. Por ser difícil fugir dos rótulos, a conclusão mais simples sobre os Jets é que eles são:

Aproveitadores e competentes.

Para bom entendedor, dois adjetivos bastam.



(GL)



© 1 Antonelli / NYDN
© 2 Jeff Zelevansky / Getty Images


Leia também: Às Cores Quando Não Há Palavras (Rex Ryan) – publicado dia 1º de Julho de 2009

Fator Darrelle Revis –publicado dia 02 de Dezembro de 2009

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