Paralelo ao Tempo


O mundo esportivo é sondado por uma praga que arruína o prazer de simplesmente desfrutar os grandes atletas: mania de comparação. Basta alguém se destacar na sua categoria que surgem debates sobre se este atleta é melhor do que outro, se merece ser rotulado de melhor da história... Aí aparecem estatísticas comprovando uma tese, números e mais números...

Será que não se pode apenas sentar em frente à TV (ou computador) e desfrutar o momento?

Hoje marca o início da temporada 2010 da Major League Baseball e a atual geração tem uma oportunidade única de ver um jogador fazendo performances na mais alta excelência, mas que constantemente é alvo de comparações e dúvidas em relação a “pureza” de seu jogo. Albert Pujols, 1B do Saint Louis Cardinals, está mostrando sua excepcional habilidade à todos, mesmo que muitos não aproveitem a ocasião para admirar o seu trabalho, preferindo criar pontos de interrogações ao invés de exclamações.

O apelido de Pujols, The Machine (A Máquina), é bem apropriado. Quando ele está no campo de beisebol é clara a impressão que ele nasceu para jogar. Os movimentos com o bastão e com a luva são tão naturais que parecem ser... mecânicos. Entre tantas características de um bom rebatedor (rebater colocado, rebater com força, rebater e correr e etc.) uma depende mais da mente do que do porte físico: a paciência.

Os arremessadores que o enfrentam se deparam com um dilema crucial, pois precisam decidir qual é a bola que mais trará dificuldade. Agora, e se esta jogada não existir? Ou seja, não há bola difícil para Pujols rebater. Então quem o enfrenta deve acreditar bastante em si e fazer o seu melhor; pode avançá-lo para a primeira base intencionalmente se a situação assim for favorável, problema resolvido.

Quando não há possibilidade de escape, o jeito é encarar a fera. A tática usada contra os grandes rebatedores não afeta muito Pujols. As bolas arremessadas perto dele (dentro da zona de strike) não lhe incomodam: ele tem capacidade de rebater a bola dentro de campo e impulsionar corridas. As bolas arremessadas longe dele (fora da zona de strike) não lhe incomodam também: ele tem calma suficiente para não fazer um swing ao vento. Estas coisas são fundamentais, pois por mais que ele seja um cara com força e hábil para rebater longe, não existe em Pujols a ânsia de ir com tudo em qualquer bola arremessada.

O número de walks dele por campeonato, de 2001 pra cá, é crescente: 69 no ano de novato; 115 em 2009.


Albert é um excelente selecionador de rebatidas e esta qualidade vem com muito estudo e treinamento. O técnico da primeira base dos Cardinals, Dave McKay, é o treinador pessoal do jogador quando o assunto é rebatidas. Durante a temporada, Pujols pede que McKay faça uma sessão de arremessos longe da zona de strike, para que a sua leitura de bolas seja aprimorada – nesta pré-temporada, Pujols se lesionou e foi poupado de alguns jogos, mesmo assim ele participou dos treinamentos de rebatidas, mas não fazia contato com a bola, ficava parado no home plate só lendo os arremessos para não perder o timing do jogo.

O Busch Stadium, estádio dos Cardinals, tem um sistema de vídeos que auxilia os rebatedores. São câmeras que filmam exclusivamente o ataque e depois servem para que os atletas vejam como está sendo os swings contra determinados arremessos. Pujols usa este recurso para evoluir mais seu jogo.

Outro fator importante de mencionar são as intensas horas de academia que Albert faz, ganhando massa muscular e resistência. Sempre depois do treinamento de rebatidas, ele faz um exercício específico para os pulsos e antebraços, aumentando e mantendo o seu condicionamento.

Esta dedicação de Pujols com o jogo é necessária, porque se fosse de outra maneira ele não estaria neste status atual de ser um ícone da MLB. Tudo isso que ele alcançou veio com muita luta e suor, esforço do 402º jogador escolhido no draft de 1999. Ser pego apenas na 13ª rodada fez com que ele quase largasse o esporte para cuidar da sua família recém formada.

Neste período, Pujols conheceu sua atual esposa, Deidre. Quando eles se encontraram, ela já tinha uma filha fruto de um antigo relacionamento. Pujols fez questão de adotar Isabella, atitude nobre de um garoto que assumia a responsabilidade de cuidar de uma criança especial – Isabella é portadora da síndrome de Down. O problema na época era que ele não conseguia impressionar os olheiros da MLB e passava parte do dia senda a babá de menina enquanto Deidre trabalhava em três empregos. Ela até conseguia alguns bicos para seu marido e Pujols abraçava prontamente. Lá ia a futura estrela do beisebol trabalhar em padaria, em bufê...

Ele pensava seriamente em desistir da MLB e se dedicar a sua família. Ele pensava em pegar um ou dois empregos e ajudar Deidre a cuidar da sua filha e assim ser um homem comum. Ele pensava, pensava... Pensava porque foi escolhido numa posição tão baixa; pensava que a chance dada pelos Cardinals não valeria a pena; pensava...

Enquanto isso ele jogava nas minors (ligas de base) e desenvolvia seu jogo esperando uma chance. Entre 2000 e 2001 as portas se abriram milagrosamente e Pujols passou da terceira divisão das minors para titular do Saint Louis Cardinals. Veio o prêmio de Novato do Ano na Liga Nacional (2001); o começo de uma carreira cheia de sucesso e de troféus.


O elo que conectou Pujols ao grande palco chama-se Deidre (foto acima). Naquelas situações corriqueiras nas quais um pensa que tá ajudando o outro, na verdade é o outro que tá ajudando o um. Nos momentos que Pujols estava cuidando da Isabella, sua esposa estava do lado lhe apresentando o cristianismo verdadeiro, longe de costumes e imposições doutrinárias de homens. Ensinamentos simples e puros serviram de alicerce para ele se manter de pé e criar forças para avançar. Até hoje, José Alberto Pujols Alcântara não se esquece destes dias e sempre após um home run aponta pro céu num gesto singelo, porém de grande significado.

A caminhada do rapaz que veio da República Dominicana e que hoje é cidadão americano foi cheia de obstáculos e dificuldades. Assim sendo, ele pouco se preocupa com as críticas destrutivas e assume fielmente o papel de ser referência para muitos fãs do beisebol no mundo todo. Qualquer pergunta e comparação que se tenha sobre Albert Pujols, o tempo trará as repostas. Por ora, que se admire o talento de um jogador acima da média.

Ponto final.


(GL)



© 1 Robert Beck / SI

Nenhum comentário:

Postar um comentário