Caso Ray Rice: A maior crise de reputação da história da NFL


Sim, é a melhor liga esportiva do mundo (mais competitiva, mais rentável...). Mas o vídeo que muitos da NFL tinham medo vazar, vazou. O site TMZ divulgou nesta segunda, 8, a imagem de Ray Rice simplesmente nocauteando sua então noiva Janay Palmer. O “deus” Roger Goodell acobertou a agressão, deu uma palmada na mão do jogador e não fez o que deveria: suspender Rice, por, ao menos, uma temporada.

A NFL agiu inconsequentemente, tentando proteger o escudo e limpá-lo da (...) feita.

Não deu.

E, claro, após o vídeo ser revelado, do soco de Ray Rice na Janay, não tinha como a liga tomar outra decisão: tinha de suspendê-lo indefinidamente.

A vítima não foi levada em consideração em todo esse caso. Assim, a NFL caiu na rede de mentiras de Rice, agindo como um sindicato protegendo seus pares.

Toda essa confusão de punir corretamente Rice, e o vídeo prova o que aconteceu no elevador, é uma constatação de como a liga agiu da pior maneira possível. Atrapalhada, desiludida. Achando que está numa bolha onde fatores externos não interferem.

E o que temia vai acontecer: toda a mídia vai reportar o fato da suspensão de Rice, vai replicar o vídeo da covardia e pontuar que a NFL não tomou as medidas corretas no momento necessário.

Aquelas falas de relações públicas, para inglês ver, ficam apenas como prova da má preparação da NFL numa situação tão delicada como essa.

A emenda saiu pior que o soneto.

(GL)
Escrito por João da Paz

Caso Ray Rice: A tentativa da NFL em tirar essa mancha do ‘imaculado’ escudo


O deus Roger Goodell, do poderoso e bilionário reino chamado NFL, terá trabalho para expurgar seu mais recente pecado.

A chance de desfrutar de voos angelicais foi perdida quando uma insignificante punição foi dada a Ray Rice (foto acima), jogador do Baltimore Ravens, por suposta agressão a sua mulher, então noiva, Janay Palmer, há seis meses.

Goodell lavou as mãos e suspendeu Rice por apenas dois jogos, simplesmente expondo ao público que é mais grave fumar maconha do que bater em uma mulher. As reações raivosas e racionais contrárias a esse julgamento pífio eram questão de tempo que surgissem.

Mídia, ONG’s, sociedade... Foi massacrante o repúdio à postura da NFL perante essa situação, deixando passar “impune” quem comete a chamada violência doméstica. Era uma oportunidade única para a liga agir com severidade contra tal crime covarde, o que faria muito sentido e serviria como exemplo. Protegeria o escudo da organização.

Ao contrário. Há nele agora uma mancha que será difícil de tirar.

Na última quinta, 13, o jornal Washington Post revelou que a NFL discute mudar esse cenário para eventuais futuras ocorrências, aumentando a pena para quem atacar alguém do sexo feminino.

De acordo com o Post, o flagrado em primeira ofensa pegará gancho de quatro a seis jogos. O reincidente poderá ficar fora da NFL por um ano. Ambos os castigos sem os vencimentos ($$$) semanais, evidente.

Nada disso, contudo, é suficiente. A notícia é o claro exemplo de um vazamento proposital. A NFL, ciente, deixa a informação chegar a imprensa (logo ao público) para ver qual a resposta recebida – se positiva ou negativa.

No mínimo, tem de ser seis jogos de suspensão para o réu primário. Daí pra frente o debate pode prosseguir.

Não deve haver qualquer movimento de hesitação nesse caso. A NFL é muito importante, tem muita influência na sociedade para lidar com esse tema tão sensível de forma tão fria.

Lembrando que Goodell, em entrevista para repórteres na sede do Hall da Fama de futebol americano na cidade de Canton, Ohio, defendeu a punição original dada a Rice...

Eis a mancha impregnada no ‘puro’ escudo da NFL.

Por mais que mudanças sejam feitas e a liga passe a ser mais rígida em casos de violência doméstica, não dará para apagar o que foi feito primeiramente – e da benção do deus.

A movimentação nos bastidores da NFL é para remediar o que for possível dessa bagunça, um nada exemplar gerenciamento de crise. Isso à luz das declarações de Rice, que se posicionou em frente aos repórteres CT dos Ravens e disse:

Minhas ações são indesculpáveis

O que aconteceu naquela noite [da agressão] é algo que vou carregar para o resto da minha vida

Eu decepcionei tantas pessoas por causa de 30 segundos da minha vida que eu sei que não tenho como recuperá-los

Falas que reforçam a gravidade do episódio.

Não vai conseguir limpar completamente, mas vale a tentativa da NFL de fazer algo para não ficar com uma imagem tão ruim perante os fãs e imprensa. Após esse vazamento, logo virá o anúncio oficial de que a liga “não irá mais tolerar situações de violência contra a mulher” e de que “tomará atitudes drásticas contra os que praticarem um ato repugnante como o tal”.

O cuidado necessário é para não se sujar mais tentando limpar a (...) que fez...

(GL)
Escrito por João da Paz

O dilema de Michael Sam: levantar a bandeira homossexual ou voltar para o armário?


Além de ser o palco onde os times da NFL escolhem seus futuros craques, o draft de 2014 teve um tempero a mais, um ingrediente histórico. Havia a expectativa de qual clube escolheria o DE (defensive end) Michael Sam, fazendo assim dele o primeiro jogador assumidamente gay a integrar um time da maior liga esportiva do mundo.

O drama aumentou com o passar dos dias do draft. Seis rodadas de seleção, dois dias completos e nada de Sam ser escolhido. A imprensa já pré-julgava se o preconceito estava sendo fator determinante para essa demora, se as franquias tinham tomado um posicionamento de evitar as tais “distrações”.

Porém o momento chegou. Na sétima rodada – e última –, na posição número 249, no terceiro dia do draft, o Saint Louis Rams escolheu Sam. A cena marcante foi transmitida ao vivo para todo os Estados Unidos e mundo: ele comemorando com um beijo em seu namorado Vito Cammisano.

Assim a história se fez. Sam está na NFL e desde o começo desta semana luta por um espaço no elenco de 53 jogadores, para que possa atuar durante toda a próxima temporada da liga defendendo a camisa dos Rams.

Mas, fora isso, Sam tem obrigações extras?

Apenas ser, eis a questão

A homossexualidade de Sam é o assunto do momento na NFL, queiram ou não. Em seu primeiro treinamento com o time de Saint Louis, na terça dia 29, Sam, camisa 96, atraiu uma multidão de repórteres e uma simples entrevista de seis minutos teve o cenário que você vê na imagem abaixo.


Entre tantas perguntas, a maioria esmagadora tratava sobre o que ele representa para a comunidade gay, qual deve ser o seu papel: ser um advogado da causa ou passar despercebido e se concentrar apenas no jogo.

Para expandir essa discussão, conversei com dois amigos gays: Gilvan Marques, 27, que assumiu sua homossexualidade há oito anos, e Alex (nome fictício), 30.

Alex entende que “[Sam] não deve levantar a bandeira gay. Cada um sabe o que fazer da vida e não ficar achando que todos devam se assumir”. Esse é um argumento que vai de encontro a quem acha a oportunidade muito rara para ser desperdiçada, ou seja, Sam deveria reafirmar constantemente a homossexualidade e encorajar outros a fazerem o mesmo.

Gilvan acredita que Sam tem de “fazer aquilo que ele se sinta mais à vontade” e concorda com o ponto de vista de Alex, mas estende um pouco esse raciocínio. “É óbvio que devemos lutar por direitos iguais para todos, independentemente da cor, religião e orientação sexual, e não de um seleto grupo de nossa sociedade. Ser gay não é coisa de outro mundo e é essa a mensagem que devemos transmitir”.

Exemplo pelo exemplo

“Ele [Michael Sam] tem de agir naturalmente. Dessa forma ele vai conseguir respeito. O esporte já é um lugar de todos, não precisa de ativismo”, observa Alex. Porém, como aponta Gilvan, “Michael Sam e Ian Thorpe (nadador australiano) ajudam a abrir debates sobre o assunto”.

Há dúvidas de como o torcedor da NFL reagirá a Sam. Fato é que na NCAA (nível universitário) não houve qualquer resistência. Ele abriu o jogo para seus companheiros da facul, Missouri Tigers, antes de entrar em sua temporada de veterano no ano passado. O sigilo foi mantido. Enquanto o público não sabia de nada sobra sua homossexualidade, Sam teve seu melhor campeonato, junto com Missouri, que venceu sete jogos a mais que em 2012 e ele foi eleito o melhor defensor do ano da Conferência SEC, a qual Missouri pertence.

Publicamente, Sam assumiu em Fevereiro deste ano, no dia 9, em entrevista para o programa Outside The Lines na ESPN. Desde então, diversas linhas de debate surgiram sobre qual sua representatividade na NFL perante a comunidade gay.

Vale dizer que Sam não se esquiva quando indagações do tipo surgem. Como dito na entrevista da última terça, ele deixa claro que seu objetivo é entrar no time do Saint Louis Rams e que as dúvidas sobre seu jogo serão deixadas para trás “quando eu deixar um cara estirado no chão após um tackle”.

Sam não voltou ao armário, mas está discreto. Demonstra seus sentimentos e pensamentos livremente em suas contas nas redes sociais. Em campo, tem sido um jogador exemplar, ciente que não tem espaço no time titular. Por isso, tem se esforçado para desempenhar seu melhor e conseguir uma vaga no grupo, nem que seja no time de especialistas.

Fundamental é que ele seja Michael Sam. E as impressões até agora são excelentes. Ao contrário dos pensamentos mais retrógrados, não são apenas homossexuais que torcem para o sucesso do jogador. Um torcedor dos Rams que pegou um autógrafo com Sam no CT do clube na terça, disse para uma emissora de TV local: “Num ambiente machista que é a NFL o cara tomar uma posição como ele fez? Sou mais fã dele por isso e desejo toda sorte”.

No texto que escrevi em março de 2013 intitulado Aspectos sociológicos acerca de jogador gay na NFL, pontuei algumas características que esse atleta teria de ter – e Sam cumpre todas elas, assim como os Rams. “...ser bom; ser de um franquia capaz de ajudá-lo nas relações públicas; ter companheiros e técnicos que o darão retaguarda; ser carismático e de bom relacionamento com a mídia...”.

Para a comunidade gay, há dois atributos que esperam de Sam, resumidos sistematicamente por Gilvan:

“Que ele seja apenas um bom exemplo de caráter e profissional”.

(GL)
Escrito por João da Paz